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Do amor ao sexo Edição 71 - julho de 2013

À procura da CARA-METADE


Dizem que a vida é a arte do encontro. É fato que, na nossa sociedade, há uma ânsia por este encontro. A tal “cara-metade”, almas gêmeas, a busca do pedaço que as complementaria e traria a tal felicidade, difícil de narrar... Mas que outro é este que deveria nos complementar? Completar o quê?

Parece haver uma sensação de incompletude (não só nos solteiros, mas também muitas vezes nos casados), que faz ainda parte do humano na sociedade atual. Fato que já foi descrito há mais de 2.300 anos por Platão, o maior dos filósofos gregos, no seu escrito “O banquete” sobre o mito do “andrógino” (andro=homem, gyno=mulher).

Conta Platão que o maior dos deuses, Zeus, aborrecido com as atitudes mesquinhas dos seres perfeitos e completos, por ele criados, os cortou ao meio, para ensiná-los a serem humildes e menos orgulhosos. Estas duas metades – homem e mulher – desde então passaram a se procurar, tentando se reencontrar, reconhecendo-se pelo abraço e pela cópula. O interessante, como diz o mito, é que este desejo jamais será saciado inteiramente no ato do amor, porque mesmo “derretendo-se” no outro pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar, que o seu anseio nunca seria completamente satisfeito. Então, a saudade da união perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor tivessem se extinguido.

Que lindo simbolismo que Platão nos revela nessa busca do outro, do “inteiro” como algo quase impossível de ocorrer. Ainda hoje podemos verificar esta busca alucinada pelo encontro perfeito, o pavor de se ver sozinho – numa incompletude que parece inaceitável. É preciso prestar atenção para como se sente esta solidão, que pode parecer revelar um fracasso pessoal, um vazio de si, uma incompetência de afeto. Mas será mesmo assim?

Quão difícil é estar de bem consigo mesmo e bastar a si mesmo. Como é complicado buscar o que nos falta no próprio emocional. O outro, a “cara-metade” tão procurada, passa ser alguém com quem só compartilhamos momentos bons ou maus, duradouros ou fugazes, mas apenas momentos e não uma parte de si sendo doada ao outro para a consolidação do encontro e a recuperação da perdida unidade plena. Vivemos numa época onde os casamentos estão se tornando descartáveis e as famílias parecendo colchas de retalhos. Não adianta a busca alucinada pelo(a) parceiro(a) perfeito(a), numa ânsia de encontros rápidos, aparentemente definitivos, mas acompanhados de precisa intolerância para com as limitações do outro. O outro parece surgir como “o ser perfeito” ideal. Como isso é impossível, passa a ser mais fácil trocar de parceiro do que reconhecer que as “caras-metades” que se procuram desesperadamente não são perfeitas.

O fantástico de tudo isso, tornando mais fácil a resolução do problema, é o reconhecimento de que o reencontro/encontro só depende das atitudes e das iniciativas de cada uma das metades. É possível relaxar e estar tranquilo caso não tenha ainda achado a “cara-metade”. Isto não é motivo de infelicidade. É importante os parceiros pararem de procurar fora de si as razões dos desencontros e infelicidades e começarem a olhar para dentro de cada um. Assim procedendo, as duas metades se sentirão muito melhor consigo e com o(a) parceiro(a), mais confiantes para se entregarem à aventura do amor ou não.


 

"É importante os parceiros pararem de procurar fora de si as razões dos desencontros e infelicidades e começarem a olhar para dentro de cada um".





* Izabel é psicóloga e terapeuta sexual

 






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