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Entrevista EDIÇÃO 35 - ABRIL 2010

“Inaugurando o shopping estarei realizado”


Nos últimos 15 anos o empresário Orlando Tischler, 82 anos, vem alimentando a curiosidade de todo cachoeirense ou visitante que passa pela quadra formada pelas ruas Sete de Setembro, Moron, General Portinho e Ramiro Barcelos, no Centro. É inevitável passar por ali, olhar para a construção do primeiro shopping center da cidade e não se perguntar quando a obra ficará pronta. Mais do que uma expectativa coletiva, a inauguração do empreendimento virou a obstinação de Tischler, que está perto de concretizar seu último grande projeto de vida. Administrador do tradicional Armazém Tischler, o senhor de fala mansa, sorriso fácil e vida simples apesar do patrimônio construído juntamente com os irmãos fala da paixão por crianças embora não tenha filhos, dos erros do passado que comprometeram o crescimento de Cachoeira e dos planos para o futuro. Veja os principais trechos da entrevista.


 

Tischler na centenária caixa registradora do armazém: vida dedicada ao comércio em Cachoeira



O senhor tinha mais de 50 anos de trabalho no Armazém Tischler quando, 15 anos atrás, decidiu construir o primeiro shopping da cidade. O que lhe incentivou a assumir este desafio?
“Cachoeira merecia um empreendimento assim. Depois de uma viagem pela Europa eu decidi fazer. Inicialmente não era para ser tão grande, mas o projeto foi crescendo. Hoje está quase pronto. Haverá espaço para mais de 50 lojas e estrutura de shopping de capital. Se a Prefeitura conceder a isenção do IPTU, que ajudará a atrair os lojistas com custo de condomínio mais baixo, inauguro ainda em 2010. É o meu grande projeto. Inaugurando o shopping estarei realizado. Quero vê-lo funcionando, cheio de gente, com lojas diversificadas e uma boa praça de alimentação”.

Toda a obra está sendo paga com recursos próprios. Quanto já foi investido? O senhor avalia que tomou a decisão certa ou que deveria ter acelerado a construção?

“Perdi as contas de quanto já me custou. No começo anotava até quantos sacos de cimento eram utilizados, mas hoje não faço mais isso. Não tem como, ficou muito oneroso. Ainda estamos instalando equipamentos, inclusive um gerador de energia, e pagando coisas que já estão prontas. Penso que fiz a escolha certa. O shopping será inaugurado em um momento favorável da economia da cidade”.

Cachoeira está indo bem?
“Toda a economia está indo bem. Cachoeira poderia estar melhor. Infelizmente tem muita gente que poderia fazer mais pela cidade, mas aplica o dinheiro fora daqui. Na verdade a cidade seria bem maior, mais movimentada, se no passado não tivessem errado. A universidade federal era para ter vindo pra cá, mas não se esforçaram, deixaram ir para Santa Maria. A mesma coisa foi com a BR 290. O projeto original previa que ela passasse bem mais perto do rio, da cidade. Mas também deixaram mudar e hoje somos uma cidade de passagem. Isso dificulta até que o turismo se desenvolva”.

O senhor lembra disso? Seu pai, que já era comerciante, se envolvia em questões como essa?
“Lembro dos comentários. Meu pai gostava, mas não se envolvia. Ele não foi político. Sabíamos primeiro porque acompanhávamos as notícias e depois porque o armazém estava sempre
cheio. Sou ainda do tempo em que as nossas mercadorias vinham de trem ou de barco. Havia uns três barcos que carregavam quase que só para o Armazém Tischler. O primeiro caminhão que encostou aqui tinha pouca capacidade. Não levava mais do que uns 60 sacos. Tudo era mais difícil”.

O senhor trabalhou desde cedo no armazém?
“Sim, todos os irmãos. Na época era só o armazém. O primeiro mercado foi aberto após a morte do nosso pai. Ele não abria mão de atendermos bem as pessoas, de providenciar aquilo que elas queriam. Eu carregava sacos e sacos de produtos desde novo, nunca gostei muito dos estudos. Tanto que não quis saber de faculdade. Quando era guri eu trabalhava, estudava um pouco e jogava basquete. Mas o pai não gostava e por três anos fiquei no internato do Colégio do Rosário, em Porto Alegre. Mesmo assim continuei jogando. Cheguei a ser do time profissional da Sogipa”.

Ainda pratica algum esporte? Já pensa na aposentadoria?
“Hoje jogo dominó na AABB. Temos uma turma de amigos que se reúne toda semana. Há mais de dez anos eu tive que diminuir um pouco o ritmo. Abandonei de vez o tênis, o vôlei e o basquete. O corpo já não responde mais como antigamente. Diminuímos até as viagens. Atualmente viajo apenas por meio das fotografias. Sou um apreciador de fotografia. Costumamos ir até Torres, onde temos um apartamento e adoramos passar uns dias. Esse é meu descanso. Comprei ainda na época dos cruzeiros, lembro que foram milhões. Pretendo continuar até quando puder. Para isso levo uma vida calma, regrada, procuro me alimentar bem”.

O senhor não teve filhos. Por quê?
“Não ter filhos foi uma opção. Devido ao trabalho, fomos adiando este plano e quando nos demos conta já estava tarde demais. Já nos arrependemos muito por causa disso, mas hoje é um assunto superado. Temos um monte de sobrinhos e convivemos bastante com crianças. Hoje em dia as notícias de filhos problemáticos e que chegam a matar os pais nos assustam e ajudam a convencer de que realmente não era para termos filhos. Mas eu adoro crianças. Sempre que vejo uma entrar na loja com o pai, a mãe ou os avós dou logo um doce, um pirulito, uma bala. Tem gente que hoje é nosso cliente e ainda lembra do tempo de criança, ia no Armazém Tischler e ganhava um doce. Há muitos anos faço isso”.





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