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Entrevista EDIÇÃO 14 - JUNHO 2008

O céu não é o limite


Ser piloto de avião sempre foi o sonho de Alexandre de Lima Schramm, 37 anos. Determinado, ele foi atrás e conquistou uma posição de sucesso como piloto agrícola na região sudeste do Brasil. Há 10 anos, no auge da carreira, um grave acidente queimou 78% do seu corpo e lhe deixou seqüelas pela vida toda. Aluno do Colégio Marista Roque durante a juventude, o cachoeirense fala pela primeira vez da sua história de superação desde que o avião que estava como co-piloto caiu em uma fazenda no estado de Tocantins.







 

Alexandre com a esposa Miryane Nascimento: como se fosse uma ressuscitação







Como aconteceu o acidente?

Foi em junho de 1998, estava no período de entressafra e decidi visitar algumas empresas. No dia que cheguei em Tocantins, um jovem havia sofrido um acidente de carro e precisava ser transferido com urgência para Brasília. O piloto da empresa de táxi-aéreo que iria fazer o transporte me convidou para ir como co-piloto e eu aceitei. Iríamos sair durante o dia, mas por complicações no estado de saúde do jovem só saímos à noite. Depois de uma parada para abastecer o avião bimotor, um dos motores parou de funcionar e o outro funcionava precariamente. Fomos perdendo altitude até cair em uma fazenda. O avião explodiu com a queda, matando o piloto, o médico que estava acompanhando e o jovem que havia sofrido o acidente. Eu e o irmão do paciente conseguimos sair.



Qual o momento mais marcante?

Eu consegui sair, mas meu corpo queimou muito e na hora nem vi que alguém mais estava vivo. Como o lugar era de difícil acesso, os peões da fazenda demoraram para me localizar, pois não enxergavam nada, só escutavam os gritos de dor. Mesmo quando me acharam não tinham como me tirar dali. O acidente aconteceu por volta das 23h30min e só recebi socorro no outro dia depois do nascer do sol. Eles me levaram de camioneta e depois onde não havia estrada me carregaram em uma rede. Essas horas de sofrimento marcaram muito. Estive consciente o tempo todo e a espera por ajuda parecia não ter fim, naquele momento só podia contar com a sorte.



Por quantas cirurgias você já passou?

Quando dei entrada no hospital, os médicos avisaram para minha noiva, hoje esposa, que eu tinha poucas horas de vida. Tive queimaduras de segundo e terceiro graus em 78% do corpo, atingindo muito o rosto, e as chances de sobrevivência só existem para quem tem até 45% queimado. Passei quase quatro meses em um hospital especializado em queimaduras. Parei de contar quando recebi a 42ª anestesia geral para fazerem os enxertos de pele. Como havia poucas áreas não queimadas para servirem como doadoras, demorava muito para fazer novos enxertos. A última cirurgia que fiz foi nas mãos, em 2001.


Como encara toda essa história?

Sempre me mantive otimista, acreditando que tudo iria dar certo e isso ajudou muito na minha recuperação. O outro sobrevivente à queda acabou falecendo 10 dias depois principalmente porque a cabeça não acompanhou a recuperação. Cada um tem uma maneira de conduzir a vida. Posso encarar por dois lados, pensando o que eu fiz de tão errado para merecer um castigo desses ou o que eu fiz de tão bom para ter sido resgatado e não ter perdido a vida. Prefiro olhar pelo lado bom, foi difícil, mas estou vivo. Acredito que tinha que passar por algo assim e que se não fosse de avião, seria na rua, em casa ou em qualquer outro lugar.



Qual o maior desafio nesses 10 anos que se passaram?

Mesmo tendo passado por esse acidente não desisti de ser piloto. Lutei e consegui tirar minha licença para pilotar novamente. Em alguns momentos pensei que nunca mais iria poder voltar a minha profissão, mas consegui e hoje sigo sendo piloto.



Como é sua vida hoje?

Estou morando em Minas Gerais, onde tenho uma empresa de aviação agrícola. Trabalho na administração e também pilotando. As seqüelas vão me acompanhar para sempre. Minha família segue morando em Cachoeira e sempre que posso venho visitá-los. A minha noiva na época se tornou minha esposa e durante todo esse tempo esteve ao meu lado. Muitas igrejas já me convidaram para dar depoimentos sobre minha história, mas nunca aceitei. Apesar de saber que seria hipocrisia não acreditar em algo superior que interferiu para me salvar.

 

 

"Posso encarar por dois lados, pensando o que eu fiz de tão errado para merecer um castigo desses ou o que eu fiz de tão bom para ter sido resgatado e não ter perdido a vida."






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