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Entrevista EDIÇÃO 12 - ABRIL 2008

Amor que não conhece diferenças


O que era para ser um relacionamento comum entre dois jovens acabou encontrando vários obstáculos no caminho por causa da diferença na cor da pele, ele negro e ela branca. Paulo Ricardo Rodrigues e Bianca dos Passos Amorim, ambos com 21 anos, sentiram o que era o preconceito quando começaram a namorar, especialmente ela que via amigos e parentes a olhando com reprovação. Entretanto, a história deles é marcada pelo amor que os fez transpor todas as dificuldades e manter o relacionamento que já dura quatro anos.


Como começaram a namorar?
Bianca - Sempre fomos envolvidos em movimentos estudantis. Quando nos conhecemos, eu atuava no grêmio estudantil da Escola Borges de Medeiros e o Paulo era presidente da Associação Municipal dos Estudantes. No início nos tornamos amigos e somente após um ano é que começamos a namorar. Me interessei especialmente pelo caráter dele, uma pessoa sempre de bem com a vida, honesta e amigo de todos. Nunca me preocupei com a nossa diferença na cor da pele. Para falar a verdade, isso sempre foi o que menos importou.
Paulo – Temos uma bonita história em que nossa amizade se transformou em amor. Para a Bianca a cobrança pela diferença na cor sempre foi maior. As pessoas acham feio uma branca namorar um negro, mas não acham tão estranho o negro estar com a branca.


 

Bianca e Paulo: namoro que já dura quatro anos se encaminha para o altar


 

Como foi a reação da família?
Bianca - Minha mãe fez uma ressalva antes mesmo de assumirmos nosso relacionamento para todos: ela perguntou se eu estava pronta para tudo o que viria junto ao namoro e se eu estava preparada para o que poderia ouvir. Respondi para ela que sim e então eles disseram para eu ir em frente.
Paulo – Meus pais nunca interferiram na minha escolha. Me encantei pela Bianca pela personalidade dela, tanto faz se ela fosse negra ou morena em vez de ser loira.


Como é ser um casal diferente entre tantos iguais? Existe muito preconceito?
Bianca – Quando começamos a namorar eu não sabia que existia tanto racismo. Só estando na pele ou vivendo uma situação como essa para saber, mas tudo dá para superar. Até hoje a pior manifestação de preconceito partiu da minha melhor amiga na época. Quando disse para ela que nós estávamos namorando ela foi logo dizendo que se eu levasse a história adiante ela nunca mais sairia na rua comigo. Depois disso a amizade esfriou. Alguns parentes mais distantes também criticaram muito. Diziam que eu estava fazendo isso só para afrontar a família e que o namoro não ia durar, mas estamos aí para provar o contrário.
Paulo - As pessoas em geral ficam olhando, principalmente os mais velhos. Acredito que ou eles ainda estranham muito, porque há alguns anos não se via muito um casal em que um é branco e outro é negro, ou por causa do racismo mesmo. Os mais novos já encaram melhor, quase ninguém da nossa idade demonstra preconceito.


A abordagem de uma situação semelhante na novela Duas Caras com o casal Evilázio (Lázaro Ramos) e Júlia (Débora Falabella) ajuda a diminuir o preconceito?
Bianca – Com certeza. Acredito que muitos assistem a novela e pensam: se na ficção acontece então temos que encarar na vida real como uma coisa natural. Sei que não é isso que vai mudar a cabeça de ninguém. O preconceito para mim nada mais é do que resultado da educação recebida pela criança. Ninguém nasce preconceituoso, isso se aprende ouvindo os outros. Meus pais sempre me ensinaram que todos são iguais, mas cada um tem suas particularidades.
Paulo - A mídia pode sim ajudar, mas o preconceito ainda vai nos acompanhar por muito tempo. O ser humano ainda tem muita dificuldade em aceitar diferenças e não falo só de raças, mas de estilos, personalidade, enfim, somos todos diferentes e não é só por que é negro ou porque é deficiente, por exemplo, que não merece respeito.


Quais são seus planos para o futuro?
Paulo - Eu estou no sexto semestre do curso de Educação Física na Ulbra/Cachoeira e a Bianca está no terceiro semestre do curso Técnico em Enfermagem na Escola de Educação Profissional de Saúde. Queremos primeiro nos formar e garantir estabilidade na profissão e só depois de estarmos seguros financeiramente planejar o casamento.
Bianca - Sempre conversamos sobre isso e sabemos que não adianta atropelar nada, tudo tem seu tempo, e na hora certa vamos nos casar. Queremos muito ficar juntos e também termos filhos, mas isso é para daqui a alguns anos.




"Quando começamos a namorar eu não sabia que existia tanto racismo."

Bianca dos Passos Amorim






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