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Entrevista Edição 67 - março de 2013

“Ser guei não é opção”


JEFERSON ROBERTO PAZ DE MOURA

Quilômetros de distância os separam, mas o fotógrafo cachoeirense Jeferson Roberto Paz de Moura, 29, tem uma coisa em comum com o famoso cantor porto-riquenho Ricky Martin e com o ator global Marco Nanini. A coragem de bater no peito e dizer para quem quiser ouvir: “Também gosto de homens”. Prestação de contas ao mundo? Longe disso, o que o jovem quer é ser mais um do time dos que lutam para que o que é diferente do padrão convencional passe a ser visto de forma normal, sem olhares de canto ou nariz torcido. Para os que pensam que isso é só um modismo motivado justamente pelos vários famosos que estão saindo do armário, Jeferson afirma que não. “Ser guei não é opção. Seja hetero, homo, bi ou transexual, a sexualidade é algo que se define ainda dentro do ventre, afinal, ninguém em sã consciência optaria por ser homossexual dentro de uma sociedade hipócrita, cheia de preconceitos e convenções totalmente retrógradas”, diz o jovem.




Como sua família reagiu quando você contou que sentia atração por homens?
“Apoiou. Nunca senti preconceito por parte dos meus familiares, e isso foi ótimo. O preconceito se aprende em casa, através de maus exemplos. Meus pais eram minha referência e sempre tive bons exemplos. A única vez que sofri bullying foi em um colégio onde estudei. Davam-me apelidos e faziam chacotas. No início, me atingiam e depois eu acabei ignorando, e o problema terminou até com pedido de desculpas daqueles que me atacavam”.

Você tem namorado. Agem como casal ou procuram evitar o contato físico em público?
“Em alguns locais andamos como um casal, damos as mãos e nos abraçamos. Afinal, o que buscamos é ter os mesmos direitos dos casais heterossexuais. A visibilidade é que vai fazer com que a diversidade sexual seja assimilada pela sociedade como variações naturais da sexualidade humana. Olhares de reprovação sempre existem, mas fazem parte do processo e não nos incomodam. Em alguns locais evitamos porque existe intolerância. Em Cachoeira, ainda não temos segurança para darmos as mãos e tenho certeza que se nos abraçássemos dentro de determinados locais seríamos expulsos, com o apoio da população. Cachoeira ainda tem muita estrada a percorrer no que se refere ao respeito à comunidade LGBT (lésbicas, gueis, bissexuais e transgêneros), que trabalha, consome, paga impostos e é tão cidadã quanto a comunidade heterossexual”.

Você pretende se casar oficialmente?
“Pretendo casar, sim, mas numa união civil. Mesmo sabendo que existem igrejas que fariam meu casamento, no momento não tenho a intenção de casar na igreja”.

Como vocês sentem o preconceito?
“O preconceito existe e hoje ele é mais sutil. Em forma de olhares de reprovação, deboche e comentários. Tem uma frase que ouvimos bastante e que ilustra muito bem isso: ‘Não tenho preconceito contra gueis, desde que meu filho não seja’. Como se a sexualidade de alguém pudesse ser moldada. O pior é a violência contra homossexuais, que só poderá diminuir com a criminalização da homofobia. As agressões físicas são só a ponta do iceberg. Homossexuais ainda sofrem humilhações no local de trabalho, são demitidos por conta da sexualidade, impedidos de frequentar certos locais. Mas isso não me intimida. Pelo contrário, me sinto ainda mais motivado a me impor como cidadão e exigir o respeito que mereço. Antes de qualquer coisa, sou cidadão, sou um ser humano. Minha sexualidade é só um detalhe que não diz respeito a ninguém, o que não significa que devo reprimi-la em público”.

O que você diria para as pessoas que sofrem algum tipo de preconceito?
“Eu diria para que tenham coragem e enfrentem esse preconceito. Para a comunidade LGBT, eu diria para que, dentro das suas possibilidades, assuma sua condição sexual e exija seu espaço e o devido respeito dentro da família e na sociedade. Nós temos os mesmos direitos de todos os cidadãos e os que ainda não foram conquistados poderão vir conforme a comunidade LGBT for ganhando visibilidade. Cachoeira teve sua primeira Parada do Orgulho Guei. Espero que venham outras e que não se perca o foco, como ocorreu em outros municípios. O foco é na luta pelos nossos direitos e por respeito, e não na música, na sensualidade e na diversão. Espero que esse evento cresça ainda mais no próximo ano e que Cachoeira se torne referência como um município que trata seus cidadãos com igualdade, independente da sexualidade, religião, raça ou classe social”.

 


Jeferson e seu namorado, Michel Borges, 27, visitando Cachoeira do Sul


Crédito da foto: Rosimeri Paz


 



"Ninguém em sã consciência optaria por ser homossexual dentro de uma sociedade hipócrita, cheia de preconceitos e convenções totalmente retrógradas."






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