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Reportagens EDIÇÃO 38 - JULHO 2010

Tem alguém no seu encalço


Detetive particular conta como é a rotina de desvendar mistérios e descobrir segredos alheios

O estilo de G., 41 anos, em nada lembra aqueles homens de capa preta, chapéu, semblante fechado e vida misteriosa eternizados no cinema no papel de detetives. Mas é fazendo esse trabalho que o cachoeirense sorridente e bem-humorado ganha a vida há 13 anos. Contador por formação, ele diz que desde a adolescência é um apaixonado por enigmas e mistérios e que chegou a pensar em ser policial, mas nunca prestou concurso. Na época priorizou os estudos. Foi morar em Santa Maria com o irmão mais velho, se formou e começou a trabalhar em escritórios da área. Foi aí que surgiu a chance de ser detetive.
Ele prestava serviços de contabilidade para uma empresa de seguros quando ajudou um funcionário a apurar se o incêndio no depósito de uma pequena distribuidora de alimentos da cidade tinha sido criminoso ou não. Havia a suspeita de que o proprietário teria provocado o incidente para receber o seguro. Foram dias conversando com vizinhos do local e funcionários da empresa e, quando o trabalho foi encerrado, G. não tinha dúvida: queria ser detetive.
Juntou dinheiro, pesquisou sobre a formação e, no fim de 1995, aproveitou as férias para ir ao Rio de Janeiro. Durante um mês participou de um curso, que acabou sendo concluído meio ano depois. Formado, iniciou a carreira prestando serviço para a mesma empresa de seguros, em Santa Maria. O primeiro serviço particular veio um ano depois, quando o cachoeirense ainda dividia o tempo entre a apuração de incidentes envolvendo os segurados e a contabilidade. “Nessa época ninguém da minha família sabia que eu era detetive. Disse que tinha feito o curso, mas para todos os efeitos eu continuava trabalhando só com contabilidade”, lembra.
Aos poucos G. começou a prestar serviço particular. O primeiro caso ele não esquece. “Foi, como a maioria, um caso de infidelidade. Um amigo do meu antigo chefe tinha perdido a esposa em um acidente dois anos antes e começou a namorar uma menina um pouco mais nova. Ele desconfiava dela e pediu que eu fosse atrás. E, de fato, ela estava o traindo com um antigo namorado. Levei dez dias para confirmar e ganhei um salário mínimo”. A partir daí a profissão de detetive passou a ser a principal fonte de renda do cachoeirense que, aos poucos, começou a prestar serviços fora de Santa Maria, onde vive até hoje.
G. concordou em contar sua rotina desde que não falasse da vida particular, não fosse gravado nem fotografado. Ele não revela se é casado, tem filhos e também não dá detalhes dos casos relatados. A entrevista foi em um fim de tarde dentro do carro dele. Pelo menos uma vez por mês o detetive viaja a Cachoeira para visitar a mãe. “Preciso ser discreto porque o meu trabalho depende disso”, sentencia. “Às vezes ela pergunta coisas que não posso contar, principalmente quando venho a trabalho. Nessa profissão às vezes não se pode confiar nem na mãe”, brinca.
Ele perdeu as contas de quantas investigações particulares fez em Cachoeira, boa parte para empresas. “Mas já foram muitos casos particulares também. O mais fácil de todos aconteceu em Cachoeira. Foi há uns oito anos. A cliente me ligou pedindo que eu fosse atrás do marido dela. Deu um relato e avisou quando ele saiu de casa para ir trabalhar. Foi só seguir o carro para vê-lo apanhando uma mulher no caminho e ir direto para um motel. Fui a Santa Cruz revelar as fotos para não correr nenhum risco e no mesmo dia entreguei o material para a esposa”. O detetive diz não manter nenhum tipo de relação com os clientes. “Entrego o resultado do trabalho e pronto. Nunca mais fico sabendo deles”.
Embora nos últimos anos os equipamentos de investigação tenham ficado mais sofisticados e acessíveis, G. diz que prefere sempre o método mais tradicional. “A observação é a melhor estratégia”, comenta. Mesmo assim ele revela ter mais de R$ 15 mil em equipamentos, incluindo câmera fotográfica com lente de longo alcance, binóculo, gravadores de voz e vídeo e escutas telefônicas e de som ambiente. “É uma profissão apaixonante, mas muito trabalhosa e de uma responsabilidade enorme. Estamos sempre lidando com vidas, com questões amorosas e financeiras”, pondera.
Apesar do gosto pela atividade, o detetive diz que mais de uma vez pensou em abandonar a carreira e se dedicar somente aos cálculos. A última vez foi em 2006, após ter publicado o telefone de contato em um anúncio de jornal. “Fazia isso sistematicamente e nunca deu problema. Mas aí um homem ligou, conversamos bastante e combinamos de acertar tudo em um hipermercado. Ele fingiu estar interessado no serviço e, na saída, quando estávamos no estacionamento, me ameaçou com uma arma pensando que eu havia o investigado. Mas eu nunca o tinha visto na vida. Foi um golpe de azar, mas que me fez pensar bastante”.
A partir daí ele passou a selecionar mais os clientes. “Com o tempo se cria uma rede de contatos e de informantes e isso se torna autosustentável. Tenho clientes da Fronteira, em Livramento e Uruguaiana, até a região de Caxias. Depois de mais de uma década estou em uma situação tranquila, sem pressão e correria”, revela, atribuindo os bons resultados obtidos ao longo da carreira a três características: “Sou muito curioso, discreto e cauteloso”.



Profissão: detetive

Quando a investigação envolve pessoas, como um caso de adultério, por exemplo, o primeiro passo é esmiuçar as desconfianças e levantar a rotina do suspeito. Saber como é o dia e os locais frequentados pelo “alvo” é fundamental.

. Geralmente o trabalho de campo começa logo e de forma lenta, para se habituar à rotina e ir descobrindo os melhores momentos e formas de se aproximar da pessoa. Os relatos de qualquer movimentação observada pelo detetive são gravados e depois transcritos em um relatório que ajuda a organizar o trabalho.

. Em poucos dias é possível se aproximar, começar a frequentar o mesmo bar, a mesma academia, e garimpar informações mais precisas. Dependendo do caso a essa altura já se obtém fotografias e/ou gravações que praticamente resolvem a questão. Em média cada trabalho particular dura de uma semana a dez dias, mas alguns demandam mais de um mês.

. O preço varia de acordo com a dificuldade do serviço e os locais que precisarão ser frequentados. Pelo menos metade do valor é recebida antecipadamente, até para custear as despesas. A maioria dos clientes paga o restante após o serviço, independente do resultado. “Mas, como em qualquer outro negócio, também se leva calote”, brinca.








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