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Reportagens EDIÇÃO 25 - MAIO 2009

Afinal, que papo é esse?


Ninguém gosta ou pelo menos diz que não gosta, no entanto fofocar ou ser vítima de fofoca é quase inevitável

 

As coisas que as pessoas mais querem saber nunca são da conta delas”, já dizia o dramaturgo inglês George Bernard Shaw (1856 - 1950). Porém, fofocar sobre a vida alheia é um hábito universal. Tanto homens como mulheres acabam em algum momento fazendo ou tornando-se vítima das más línguas. É um costume que revela muito sobre a pessoa que é objeto do falatório e mais ainda sobre o fofoqueiro. Já reparou que toda vez que uma pessoa diz "nem te conto", está justamente avisando que, muito ao contrário, ela vai soltar o verbo e descrever, em ricos detalhes, uma história sobre alguém?

 
Fofoca também desempenha uma função social, a de manter as pessoas na linha sob pena de se exporem ao ridículo e à boataria

 

O que o ouvinte faz? Banca o socialmente correto e diz que não se interessa pela vida dos outros? Dificilmente! Pronto: está formada a rede da fofoca. Para a psiquiatra Fernanda Boeck, 38 anos de idade e 14 de profissão, esse hábito é motivado por inveja de alguma coisa ou de alguma situação. “Percebo em muitos ambientes que convivo o costume de falar da vida dos outros, às vezes por maldade, comentado a roupa que fulana está usando, por exemplo, ou pela simples curiosidade de saber da vida dos outros. Em cidades pequenas como Cachoeira essa atitude é mais reforçada, já que as pessoas se conhecem mais, ao contrário das cidades grandes onde os grupos de convivência são mais isolados”, observa.
De acordo com a psiquiatra, quem ouve com interesse é tão responsável como quem faz a intriga. “Ao mesmo tempo em que sou contra mesmo quando a fofoca é inocente, pois pode acabar prejudicando quem foi o alvo, acredito que o falatório muitas vezes é somente uma forma de buscar a inserção em um grupo, ter assunto para ser aceito”, ressalta. Especialistas em comportamento afirmam que quando se é vitima é importante analisar porque foi o foco da maldade. “É uma psicanálise barata. Pare e reveja comportamentos e atitudes para saber se realmente não está sendo culpado pela boataria”, orienta Fernanda.
TU NEM SABE – Ao contrário da maioria, o especialista em fofoca da universidade americana Knox College, Frank McAndrew, enxerga o diz-que-diz-que de maneira positiva. Ele garante que fofocar é tão vital para a sobrevivência da espécie quanto gostar de sexo. Há 10 anos estudando o tema, ele defende a importância do falatório para a evolução do homem. Mais que apimentar o dia-a-dia, a fofoca desempenharia uma função social, a de manter as pessoas na linha sob pena de se exporem ao ridículo e à boataria. Esta mesma tese é aceita também pelo autor do livro “Tratado geral sobre a fofoca”, de José Ângelo Gaiarsa.



 

Tipos de fofoca


. Inocentes: quando ouvimos problemas sérios de alguém e, por vontade de ajudar, acabamos repassando a outros em busca de soluções. Para não virar intriga, precisamos ter certeza de que realmente estamos ajudando. O melhor é nos colocarmos no lugar dos envolvidos.
. Inventadas: feitas por maldade, para destruir alguém. É sempre fruto de inveja.
. Cíclicas: às vezes, a ocasião faz o fofoqueiro, quando está em uma fase de autoestima baixa em que o sucesso do outro atinge como uma provocação. Fica tão difícil ouvir que as pessoas estão bem, enquanto nos sentimos mal, que tentamos encontrar defeitos nelas e anunciá-los aos outros.



 


"Quando se é vítima de fofoca é bom parar e analisar se seu comportamento realmente está adequado."
Fernanda Boeck


 


Fuxicos no papel


Antigamente uma boa fofoca era tecida entre vizinhas penduradas nas janelas, entre amigos de orelha em pé ou entre pessoas com ocupação preferida de falar da vida alheia. Hoje, ela sofisticou-se e existe uma verdadeira indústria da fofoca. Falar da vida alheia virou negócio lucrativo para a imprensa, prova disso é o expressivo número de revistas com o foco de bisbilhotar a vida de celebridades.


 


Como não cair na tentação de  fofocar


1. Antes de falar, conte até dez e respire fundo.

2. Avalie bem o que vai dizer. Qual seu objetivo real?

3. Tente imaginar como aquela revelação afetaria a vida dos envolvidos.

4. Não há outro meio de ganhar a confiança ou a cumplicidade de alguém?

5. Lembre-se de que o tiro pode sair pela culatra: nem sempre a fofoca é bem recebida.







 


Disseram por aí...


“Já fui prejudicada por fofoca. É difícil quando a história é contada por uma pessoa próxima do ouvinte e desconhecida do alvo do boato, pois as afirmações e invenções nem sempre podem ser corrigidas”.


Vanessa Rodrigues, 24, estudante










 

 


“Em 99% dos casos a fofoca acaba em prejuízo e o pior é que os cachoeirenses têm o hábito de fofocar. Sempre evito por meio de uma conversa ser ouvinte de um boato. Entra por um ouvido e sai por outro. O tititi aparece sempre de forma negativa e um motivo para isso é a inveja de uma posição ou situação. Conheço vários fofoqueiros que no meio de uma conversa dão uma guinada e logo lançam a maldade”.


Hélio Mercadante, 47, engenheiro civil





 

 


“Existem muitas pessoas que se dizem amigas e que levam e trazem coisas que muitas vezes confidenciamos a elas, distorcendo e inventando assim situações. Muitas vezes deixam os outros com uma imagem arruinada, mas o fofoqueiro tem fama, normalmente sabemos reconhecê-lo”.


Dioneide Cristina Andrade da Silva, 17, cabeleireira










 

 


“Não gosto e não compactuo com gente fofoqueira. No interior as pessoas têm o costume de opinar na vida dos outros por falta do que fazer, curiosidade, ciúmes ou mágoas que as levam a ter este comportamento. Conheço muitos fofoqueiros, tanto homens quanto mulheres, e já me vi em situação delicada por fofoca”.


César Sena, 45, funcionário público



 

 


“É algo sem importância, não dou a mínima para o tititi. O importante é tua verdade, como você pensa. Não dar continuidade a um boato é a melhor coisa a fazer, pois a verdade sempre aparece. Procuro me colocar no lugar das pessoas. Fofoca é característica de desocupados, infelizes e que não querem ver ninguém feliz”.


Liziane Siqueira, 46, fotógrafa







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