
Gustavo Ghignatti quando se formou em Psicologia na Ulbra, em 2004
Eles conquistaram o sucesso mundo afora
Morar fora do Brasil é um sonho que habita o coração de muitas pessoas. Mas deixar a terra natal para recomeçar do zero em outro país exige coragem, resiliência e uma dose generosa de esperança. Para muitos, é apenas um ideal distante — mas para alguns cachoeirenses, esse sonho virou realidade.
Eles atravessaram oceanos, enfrentaram incertezas, adaptaram-se a idiomas e costumes diferentes. E mais do que isso: hoje brilham em suas áreas de atuação, ganhando reconhecimento internacional e levando consigo um pedacinho de Cachoeira do Sul a cada conquista. Nesta reportagem, você vai conhecer as trajetórias inspiradoras de quem foi em busca de um novo mundo e acabou construindo um futuro de sucesso fora do Brasil, sem jamais esquecer suas raízes.
Da psicologia ao coração da cozinha

Na Austrália, Gustavo recebeu recentemente um reconhecimento importante como chef de cozinha
Os sonhos de aprender uma nova cultura, ter uma boa qualidade de vida e um mar para surfar falaram mais alto do que um diploma de Psicologia na mão. Munido de coragem e com um espírito aventureiro, Gustavo Ghignatti (também conhecido como Deda), 47, embarcou em 2008 para Sydney, na Austrália.
Dentre as maiores dificuldades, além da saudade da família, Gustavo destaca a aprovação do visto para poder seguir legalmente no país. “Conseguir a cidadania australiana é uma luta diária, e é aí que a maioria das pessoas desiste e volta para o Brasil”, fala.
Gustavo tinha alguns amigos lá e iniciou trabalhando na construção, ao mesmo tempo em que estudava inglês para crescer profissionalmente. Mais confiante no idioma, começou a trabalhar num café/restaurante. E foi ali que a paixão por cozinhar começou.
17 anos depois, após ter se dedicado a estudar gastronomia e adquirido bastante experiência em restaurantes, Deda será chef de cozinha em um novo espaço na Austrália, que vai ter o foco em cozinha internacional e lá terá a oportunidade de colocar pratos brasileiros no menu.
Gustavo, que é pai de Alícia, 12, e Gustavo Henrique, 12, vem para Cachoeira a cada 2 anos para estar com a família.
Lucas trouxe sua expertise para o Brasil
Em Cachoeira do Sul, em 2012, com o grupo de amigos que fundou o time Jaguaris (Lucas é o primeiro, de amarelo, na fileira de cima)

Atualmente, de volta ao Brasil, morando em Araraquara, SP
Decidido a traçar altos voos e ser bem-sucedido profissionalmente, Lucas Oaigen, 41, saiu do conforto de casa para buscar experiências fora do Brasil. Recentemente ele retornou ao país, depois de 10 anos, e assumiu o cargo de gerente de marketing e comercial da Ferroviária SAF, um clube tradicional em crescimento no futebol que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro.
Quem vê seu sucesso hoje, não imagina os obstáculos que enfrentou no caminho e um deles é o que faz a maioria das pessoas desistir de seguir adiante no exterior: visto de residência. “Fiquei meses juntando a documentação para dar entrada no processo de legalização no Canadá e depois de 10 meses recebi um não como resposta. Fiquei bastante decepcionado e por um momento cheguei a pensar em desistir”, conta.
Porém, este momento da vida dele durou dois dias apenas. Lucas tentou novamente e depois de mais alguns meses, conseguiu! Lá se tornou Diretor de Tecnologia em um dos maiores bancos do país e também deu início à transição de carreira para o esporte. Em 2025, decidiu retornar ao Brasil com uma bagagem incrível de conhecimentos, adicionando no seu currículo o FIFA Master na Europa.
Morando em Araraquara (SP) desde maio deste ano, Lucas realizou o sonho de trabalhar em um projeto grande com a expertise de quem saiu em busca de experiências e atualizações do que há de melhor na sua área de atuação. “Dentro do clube lidero a área comercial, sendo responsável por patrocínios, plano de sócios, marketing, parcerias e expansão da marca”, completa.
Carreira de sucesso
Conrado e Paula em 2011, na Festa de Natal da Sociedade Rio Branco

Conrado atualmente, na fábrica da AGCO, na Alemanha
Com um amplo interesse pela cultura oriental, Conrado Streck Lewis, 37, direcionou sua carreira aqui no Brasil de uma maneira que o levou a trabalhar em Taiwan.
“Me formei em Comércio Exterior e em 2019 concluí meu MBA em Gerenciamento de Projetos. Eu trabalhava como especialista em compras na AGCO Canoas (a AGCO Corporation é uma multinacional americana fabricante de máquinas agrícolas). Anos depois, fui para o escritório em Taiwan e atualmente sigo na mesma empresa, porém no escritório em Beauvais, na França, onde a AGCO possui uma unidade fabril da Massey Ferguson”, conta.
Nenhuma meta ou desafio cultural foi mais difícil do que acompanhar a luta do seu pai contra o câncer aqui no Brasil e superar a distância dos familiares. “A minha esposa (também cachoeirense, Paula Raddatz, 34) é minha grande parceira e está sendo essencial nesse processo aqui comigo”, diz Conrado.
Dentre tantas experiências positivas e enriquecedoras, um momento desafiador vivido durante a pandemia foi marcante para o casal. “Indo para o Brasil, testamos para covid no aeroporto de Taiwan e fomos enviados para um hotel de quarentena. Até aí, tudo bem. Na madrugada, o governo ligou avisando que a Paula havia testado positivo e precisava sair imediatamente. Homens com roupas de astronauta fecharam o quarteirão, entraram no quarto e a levaram de ambulância. Eu assisti tudo pela janela, sem saber para onde ela estava indo. Perdemos o contato. Ela foi levada para um hospital e eu para um outro hotel. Dias depois, também testei positivo. Fui levado para um hospital diferente do dela. Ficamos 15 dias separados em salas de isolamento congelantes, assintomáticos. Sem poder nos comunicar com a língua local e sem contar com ajuda. Um perrengue que hoje parece surreal”, lembra.
Duas imigrações e vida minimalista
Formatura em Odontologia, em 1998, pela Ulbra/Canoas

Astrid, atualmente, morando na Suíça, atuando como dentista e empresária
“Tomei a decisão de deixar Cachoeira em 1994 para estudar Odontologia em Porto Alegre. 5 anos depois e, recém-casada, recebi um convite para lecionar em um curso de Odontologia em Portugal”, conta Astrid Schoenfeldt Müller, 49. E foi lá que ela construiu uma grande carreira, se tornou empresária e onde nasceram seus dois filhos, Marina, 16, e Marcelo, 12.
Os maiores desafios enfrentados por eles foram a adaptação cultural, o clima, a burocracia e serem confrontados com o preconceito, só por serem imigrantes. “A falta da família e de amizades sólidas, causa, às vezes, tristeza e solidão. Por isso precisamos ter sempre a ideia clara dos motivos que nos fizeram optar por viver essa experiência”, explica.
Já com sucesso conquistado em Portugal e visando mais oportunidades para os filhos, além do crescimento profissional, Astrid e o marido, o porto-alegrense Bruno Martins, 51, decidiram se mudar para a Suíça. “Lá é um país muito preparado e habituado à imigração devido à forte presença de estrangeiros”, conta. Atualmente, eles têm dois consultórios odontológicos, um em Genebra e outro em Nyon.
“Minha virada de chave depois de duas imigrações é reconhecer que eu sou o meu próprio lar. Em cada uma de nossas mudanças, a bagagem foi cada vez menor. Eu, meu marido e nossos filhos somos apaixonados por viajar e adeptos de uma vida simples e minimalista. Uma das minhas maiores realizações é vivenciar uma experiência de vida tão diversificada e enriquecedora, aprendendo todos os dias e ensinando meus filhos a tolerância e o respeito que advêm da diversidade cultural”.
Astrid Schoenfeldt Müller, 49, dentista e empresária.
Sonho americano
Gabrielle Ghignatti, 44, e Claudio Pellenz, 47, são advogados e especialistas em Direito Imigratório. Segundo eles, quem está planejando ir para os Estados Unidos, deve começar pelo mais importante: clareza no objetivo da viagem. Isso porque existem diversas categorias de visto e cada uma delas tem regras e exigências específicas. “Quanto antes o planejamento começar, maiores são as chances de sucesso. Muitas vezes, o erro está em deixar tudo para a última hora ou seguir informações desencontradas da internet”, afirmam.
Eles explicam que os maiores motivos de negativa de visto são preenchimento incorreto de formulários e o despreparo na hora da entrevista ou na escolha equivocada da categoria, o que faz muita gente perder oportunidades por falta de orientação adequada. Conforme os advogados, o visto de turismo (B1/B2) é o mais popular e costuma ter boa taxa de aprovação. Os vistos de estudo (F-1) e intercâmbio (J-1) também são acessíveis quando o solicitante tem a documentação em dia e um plano bem definido. Estes dão o direito de moradia, mas não de trabalho. “A assessoria adequada torna qualquer processo mais simples, até mesmo casos mais complexos, como vistos de trabalho (H-1B, O-1) ou imigração da categoria EB-2. Organização, atenção aos detalhes e um processo bem conduzido podem mudar completamente o resultado”.