Intestino preso?
“Não é preciso conviver com dor ou desconforto intestinal quando há caminhos seguros e eficazes para o cuidado”. Taís Cerentini.
Fisioterapia pélvica pode tratar a constipação
Se sentir estufado, sofrer com o inchaço abdominal e passar dias sem conseguir ir ao banheiro são queixas comuns de quem convive com a constipação intestinal – a famosa prisão de ventre. E quando isso acontece recorremos a medicação, chás e alimentos com fibras.
Porém, muito além disso, existe uma abordagem ainda pouco associada ao tema, mas que pode fazer toda a diferença no tratamento: a fisioterapia pélvica. Para Taís Cerentini, 31, fisioterapeuta pélvica e oncológica com nove anos de profissão, é possível ajudar o intestino a voltar a funcionar como deveria, de forma natural e eficiente, através da reeducação da musculatura, treinos de relaxamento e coordenação, dentre outras possibilidades.
As causas, segundo a profissional, podem estar relacionadas a alterações no funcionamento da musculatura do assoalho pélvico. “Em algumas pessoas, os músculos dessa região não relaxam no momento adequado ou realizam contrações paradoxais, que chamamos de anismo. Ou seja, mesmo com o bolo fecal pronto para ser eliminado, o próprio corpo dificulta a saída, causando esforço, sensação de evacuação incompleta, desconforto e, muitas vezes, dor”, diz.
Cuidado com os hábitos de infância!
A fisioterapeuta destaca que hábitos adquiridos ainda na infância, como segurar a vontade de ir ao banheiro, não se sentar corretamente no vaso ou associar o ato de evacuar a um momento desconfortável ou até punitivo, podem gerar padrões musculares disfuncionais que se mantêm na vida adulta. “Quando não tratada, a constipação crônica pode contribuir para outras disfunções do assoalho pélvico, como incontinência urinária, por exemplo”.
Como saber se a causa tem a ver com a musculatura pélvica?
Alguns sinais são: necessidade de fazer muito esforço para evacuar, sensação de evacuação incompleta mesmo após ir ao banheiro, uso das mãos para ajudar (pressionando o períneo ou a parede vaginal), dor ao evacuar e fezes muito endurecidas ou em fragmentos.
“Muitos pacientes também relatam a sensação de ‘bloqueio’, como se o corpo quisesse evacuar, mas algo impedisse. Outro sintoma comum é dizer que ‘parece que não tenho força para evacuar’, quando na verdade, o que está acontecendo é uma incoordenação muscular: em vez de relaxar no momento certo, a musculatura contrai ou trava, dificultando o processo”, explica.
Que tipo de tratamentos temos disponíveis?
O tratamento pode incluir técnicas de reeducação da musculatura pélvica, treinos de relaxamento e coordenação, uso de balão retal para estimulação sensorial e do reflexo de expulsão, além de orientações comportamentais, alimentares, respiratórias e posturais.
“Também utilizamos recursos eletroterapêuticos específicos — diferentes dos ‘choquinhos’ que as pessoas costumam imaginar na fisioterapia convencional. São tecnologias seguras, voltadas especialmente para estimular o funcionamento do intestino e melhorar a coordenação muscular”. Aqui estão alguns exemplos:
Corrente interferencial: aplicada sobre o abdômen, ajuda a ativar os movimentos do intestino, aliviando a sensação de inchaço e lentidão.
Terapia por ondas de choque (de baixa intensidade): utilizada na região abdominal, pode auxiliar na melhora da motilidade intestinal — ou seja, ajudar o intestino a se movimentar de forma mais eficiente.
Tela do biofeedback eletromiográfico, com treino específico de acordo com a avaliação do paciente
Biofeedback eletromiográfico: funciona como um “espelho eletrônico” da musculatura, mostrando em tempo real e numa televisão como os músculos estão se comportando, em especial durante o esforço evacuatório, ajudando o paciente a aprender a contrair e relaxar de maneira adequada.
Neuromodulação não invasiva: é uma técnica usada para estimular, por meio de pequenos impulsos elétricos, nervos ligados ao funcionamento intestinal. Esse recurso pode ser especialmente útil para pessoas que têm pouca sensibilidade na região retal, ajudando o corpo a “perceber melhor” quando é hora de evacuar.
Outra opção é a cadeira que simula o vaso sanitário, utilizada durante os treinos evacuatórios. Essa estrutura permite simular o ambiente de evacuação de forma mais realista, ajudando o paciente a praticar com consciência e segurança a postura correta, a respiração e o tempo certo de relaxamento.
“No consultório, trabalhamos com técnicas especializadas e equipamentos que não estão disponíveis em casa, mas é fundamental que o paciente participe ativamente do tratamento com exercícios e orientações em domicílio. A continuidade em casa é o que consolida os ganhos obtidos nas sessões presenciais”, reforça Taís.
Homens também podem ser afetados?
Sim! Segundo a especialista, a constipação associada à disfunção do assoalho pélvico não escolhe sexo. No entanto, ela reconhece que ainda existe um grande tabu entre o público masculino, o que acaba atrasando o diagnóstico e o início do tratamento.
“Um dos principais mitos é acreditar que a constipação crônica precisa ser aceita como parte da rotina. Muitas pessoas acabam normalizando o sofrimento intestinal e se adaptando a ele por anos, até que os sintomas começam a impactar o bem-estar geral, como o sono, o humor, a disposição e até a autoestima”, revela.
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