Retrospectiva Linda
“Todos nós, que estivemos na linha de frente da pandemia, vivemos algo que vai muito além do que é possível explicar em palavras”. Camila Roggia.
A história da médica que esteve na linha de frente durante a pandemia
Em 2022, Camila Roggia estampou a capa da edição de janeiro da Revista Linda, como símbolo de força, coragem e entrega. À frente da linha de batalha no Hospital de Caridade e Beneficência de Cachoeira do Sul, a médica Camila Roggia, hoje com 39 anos, enfrentava dia após dia o caos instalado pelos corredores, no auge da pandemia de covid-19.
Em atos heroicos, há 3 anos, ela e uma grande equipe de profissionais salvaram vidas e enfrentaram muitas adversidades. Enquanto isso, Camila também lidava com uma dor pessoal: ela e o seu pai, Bernadino Roggia, contraíram a doença de maneira severa. Ela desenvolveu uma pneumonia bacteriana, mas se recuperou. Já o seu pai faleceu 13 dias após a internação. (É “BERNADINO” MESMO? SEM O “R”?)
“Este foi o momento em que precisei de auxílio psiquiátrico. Perdi meu pai justamente para a covid e precisei seguir nos plantões pela falta de profissionais. O burnout veio e ficou insustentável continuar trabalhando até reorganizar meus sentimentos”, relembra Camila, três anos depois, ao contar como a experiência mais desafiadora de sua vida — dentro e fora do hospital — moldou o seu caminho.
Em meio às marcas que ficaram, algumas lições floresceram. Hoje, ela trabalha no HCB, atuando essencialmente na sua formação acadêmica, como médica gastroenterologista e endoscopista; e está agregando uma nova formação em nutrologia. Além disso, segue como plantonista na UTI e, recentemente, aceitou o convite para entrar no grupo da residência médica do HCB, onde vai poder contribuir com a formação de outros colegas. “E na vida pessoal, tudo ganhou um novo sentido com a maior e mais linda mudança: me tornei mãe”, conta. Camila é casada com o advogado Vinícius Lorentz, 39, e mãe da Cecília, de cinco meses.
A humanidade evoluiu?
“Sinceramente, não. Percebi que a influência política foi determinante no modo como as pessoas e os países enfrentaram a crise sanitária, e a pandemia aprofundou a polarização política, transformando medidas de saúde pública em bandeiras ideológicas. O movimento antivacina que a pandemia desencadeou entristece, pois, vacinas altamente eficazes, que estão no calendário há décadas, tiveram baixa cobertura nos últimos anos. Exemplo recente são os surtos de sarampo. Dentro dos hospitais, os maiores ensinamentos que ficaram foram a importância da preparação e do planejamento mínimo para enfrentar crises sanitárias. Acredito que a valorização da saúde mental dos profissionais e melhores condições de trabalho ficaram mais em evidência. A integração da tecnologia na assistência foi uma virada de chave, mudou toda a logística envolvida - a telemedicina veio para ficar”, diz.
Em janeiro de 2022 Camila foi capa da Linda
O que poderia ter sido diferente?
“Certamente, saber fazer o diagnóstico e o tratamento correto de uma doença que foi tão devastadora para muitos pacientes mudaria bastante coisa, mas lidamos durante muito tempo com uma situação nova e assustadora em âmbito mundial. Gostaria muito de ter sabido já no início como tratar uma doença que, na época, foi catastrófica e destruiu famílias. Também acho que eu teria poupado energia se entendesse que algumas pessoas simplesmente têm sua opinião formada e são irredutíveis em aceitar o que se tem de evidência científica”, destaca.
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