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Reportagens EDIÇÃO 17 - SETEMBRO 2008

O Rio Grande do Sul é o meu país


Idéia de tornar o estado um país ganha força com a chegada do 20 de setembro

 

Entre os 27 estados do Brasil, uma porção deles poderia se tornar independente, iniciando por São Paulo, a grande potência econômica do país. Mas é o povo da Região Sul, especialmente do Rio Grande do Sul (RS), que traz com maior força esse desejo. Não é de hoje que a idéia de tornar o RS um país encanta os gaúchos, mas essa proposta ganha sempre novo fôlego quando se aproxima o 20 de setembro, data referencial ao povo que se consagrou nacionalmente pela valentia, rebeldia e capacidade de luta. Todas essas características são motivos dessa paixão, aliadas ao fato de o sentimento de liberdade estar entranhado no DNA do povo dos pampas.
Idéias separatistas estão presentes em toda a história do estado, tanto que a questão deixou de ser somente política e passou a ser também cultural. O grande objetivo da separação é tornar o Rio Grande independente economicamente. Mas se o separatismo seduz tanto o povo gaúcho, por que não sai somente do papel e se torna realidade? O grande motivo é o primeiro artigo da atual Constituição Brasileira de 1988 que determina que o Brasil é formado pela união indissolúvel dos estados, municípios e do Distrito Federal, ou seja, a lei torna inconstitucional qualquer movimento que tenha como objetivo a dissolução do Estado brasileiro. No entanto, a legislação brasileira também garante a liberdade de cada cidadão de manifestar ideologicamente o seu pensamento (desde que para tanto não utilize-se de armas de fogo, não atente contra a vida pública e não incite a violência).
Mesmo sabendo dos obstáculos para tornar o RS um país, foi criado há um ano o Movimento pró República Rio-grandense (MRR), fundado pelo portoalegrense e historiador Romualdo Negreiros, 54 anos. O movimento, que conta com 250 ativistas, propõe essa divisão através de meios democráticos, como a realização de plebiscito, ou seja, os gaúchos através de uma eleição dizerem o sim ou não à separação. “Seguindo o exemplo de centenas de outros povos no mundo, muitos destes em igualdade de condições com o povo gaúcho, acreditamos que é, sim, possível realizarmos um plebiscito justo e legal, onde o povo se pronunciará definitivamente quanto ao seu desejo de liberdade, ou não. A separação, se acontecer, deve ser pacifica, não queremos pôr em risco vidas inocentes, em uma luta por idéias e ideais, erro muito tristemente cometido no passado”, observa Romualdo.
Para ele, as razões para a luta pela separação além da independência econômica são o sentimento que o gaúcho quer ir adiante, de superar suas dificuldades e se desenvolver mais. "Porém, as restrições impostas pelo Governo Federal o impede de seguir adiante: o RS está preso a leis inadequadas à sua realidade; paga alto preço à União por ser um estado produtor e exportador; está de mãos amarradas para que possa adotar as soluções necessárias à manutenção da vida, da segurança, da saúde e da educação de seu povo, reclama. “Há muitos motivos, além do ponto de vista econômico, existe o lado sociológico e histórico também”, ressalta o ativista.
Cachoeira do Sul possui em sua história o registro de pelo menos um movimento separatista, tendo sua última ação registrada em 1991. Coordenado pelo historiador e tradicionalista Otávio Peixoto de Melo, o Maragato, 69, o movimento dissolveu-se por pressão da lei. Para Maragato, que segue na convicção do separatismo, mas sem alardear suas idéias, hoje a separação só poderia ser feita caso se iniciasse uma nova guerra. “Tornar o RS um pais é um sonho, mas só na bala mesmo para isso acontecer. Temos tudo, exceto petróleo, estamos oprimidos economicamente e somente a separação poderia resolver”, resume.
E você leitor, também quer tornar o Rio Grande do Sul um país?


 

 

Rio Grande:

 história e desejo de liberdade

fazem muitos

gaúchos lutarem pela

separação do estado do resto do Brasil



 

O sucesso e garra do povo gaúcho seguidamente é alvo de matérias e comentários em veículos de comunicação de todo o país. Hoje, retratado como um país, o RS estaria entre as 30 nações com a melhor qualidade de vida do planeta. Considerando-se os padrões estabelecidos pelas Nações Unidas, seria algo como Grécia ou Portugal. Quanto à expectativa de vida, é a maior do Brasil, e quanto à cultura, é o estado com o maior índice de leitura por habitantes: são dois livros por ano. Ainda é pouco, mas é o dobro da média nacional. Além de tudo isso, o RS é uma usina de talentos graças à riqueza de suas nacionalidades: índio, negro, português, espanhol, alemão, italiano, japonês, árabes, entre outros. Na passarela da moda a imbatível Gisele Bündchen, na ginástica Daiane Santos e no futebol, Ronaldinho Gaúcho, eleito por duas vezes o melhor jogador do mundo e ainda para mostrar sua grandiosidade tem o Grêmio e o Internacional campeões do mundo. E o melhor: em todos estados brasileiros há gaúchos bem sucedidos.






 

O Rio Grande do Sul país


Vantagens


1 A liberdade de decisão. Hoje é submisso ao Governo Federal


2 Aplicação, em nosso próprio país, do produto do nosso trabalho


3 Confecção de Constituição e leis sociais específicas às características do nosso povo


4 Administração voltada exclusivamente às nossas dificuldades e direcionada ao nosso desenvolvimento como nação.


5 Prioridade ao desenvolvimento e propagação de nossa cultura própria, relegando a segundo plano as culturas alienígenas.


 

Desvantagens


1 O Rio Grande não é auto-suficiente, e sentirá falta de gêneros de primeira necessidade produzidos no Brasil (petróleo, produtos industrializados, laranjas, etc).


2 Se tornará mais uma pequena republica sul-americana, sem poder de barganha nas questões internacionais.


3 Os gaúchos precisarão tirar passaporte para viajar a Santa Catarina, por exemplo.


4 O Brasil poderá nos retaliar no comércio exterior.


5 Não temos capacidade de nos governarmos sozinhos e o país cairá numa insolvência administrativa

 


Pontos que contribuem para a independência


Língua

Assim como a predominância no Brasil, o português é a língua do RS, porém ao lado das línguas trazidas pelos imigrantes, incorporando muitos termos indígenas e com forte influência espanhola no extremo sul. Essa mistura faz com que o português falado no estado seja bastante diferente do resto do Brasil.


Cultura

O RS tem uma cultura toda própria com hábitos e costumes que ultrapassa gerações. É bastante homogênea e distingue-se muito de outras regiões brasileiras, notadamente do Nordeste e Norte.


Território

O RS possui um território contíguo de quase 300 mil quilômetros quadrados. Os limites deste território com o oceano e com outros países, somente ao norte com o Brasil, também ajudou a formação de uma nacionalidade própria.


Clima

O clima é diferente das outras regiões brasileiras. O RS possui as quatro estações (verão, outono, primavera e inverno) bem definidas.


Hidrografia

A natureza dotou este território de rios que têm as suas nascentes ou, no mínimo, grande parte dos seus afluentes dentro dele próprio. Portanto, a água, para consumo e irrigação, também é própria. É uma herança comum de caráter geográfico que reforça a sua condição de povo e nação.



 

FALA, CACHOEIRENSE


Você é a favor do separatismo?



"A idéia de tornar o Rio Grande do sul um país não me atrai. Respeito quem aposta nessa proposta, mas acredito que está bom assim. O RS até teria condições, mas para mim o país deve continuar como está."


Luís Silva, 56, vice-presidente da 15ª Fenarroz e empresário





 

"O RS até teria condições de se tornar um país, mas sou contra a idéia. É preciso industrializar os municípios primeiro. Hoje, não vejo como a separação poderia trazer vantagens. A proposta é antiga e baseada no fato que o governo central não dava atenção ao estado, um conceito que ficou para trás. Hoje, tornar a economia do estado melhor só depende da competência dos gaúchos."


Rogério Drews, 52, presidente da subseção da OAB/ Cachoeira do Sul



 


"Sou contra. Se a história gaúcha nos explica as razões dos nossos antepassados para nos mantermos unidos ao Brasil, a economia globalizada atual não deixa espaço para movimentos isolacionistas. A União Européia, bloco econômico vitorioso, é a síntese dessa tendência de relegar para segundo plano os limites dos estados nacionais em favor da integração econômica e o desenvolvimento social que propicia."


Flávia Tonet, presidenta da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Cachoeira do Sul


 


“Antes de ser brasileiro, eu sou gaúcho, por isso sou completamente favorável a tornar o RS um país independente. Somos ricos tanto em agricultura como na agropecuária, por isso temos plenas condições de ser uma república."


Edson Quadros, 43, patrão do CTG Os Gaudérios e funcionário público municipal






"Ainda me coloco em cima do muro quanto a essa questão. Já parei para analisar, mas enxergo ao mesmo tempo muitos pontos positivos e também negativos. Tornar o RS um país é uma decisão que exige muito estudo e análise. Acredito que temos condições, mas é preciso pôr na balança as vantagens dessa mudança."


Janice Machado, 47, patroa do Piquete de Laçadores Delfino Carvalho






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