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Reportagens Edição 176 - Março de 2023

Uma legião de dependentes


“Penso que o principal é termos seriedade com a nossa saúde, especialmente em se tratando de algo tão delicado como o nosso cérebro. Existe uma cultura do ‘comigo não vai acontecer’ que atrapalha muito. Mas acontece, e não é raro”. Lino Ribeiro

Os efeitos alucinógenos do zolpidem  

 

 

Se popularizou nas redes sociais o nome de um medicamento que tem virado assunto entre os jovens: zolpidem. O remédio, chamado de “pílula do paraíso”, é indicado para tratar a insônia, mas viralizou ao ser o causador de distúrbios e alucinações relatadas no Twitter – em postagens que revelam uma geração dependente de remédios para executar ações simples do dia a dia, como acordar, comer e dormir. 

 

O zolpidem foi lançado no início dos anos 1990 e deve ser usado por um curto período de tempo, no máximo quatro semanas, por quem tem dificuldades para dormir ou manter o sono de forma adequada. “Os efeitos são evitáveis quando se faz o uso responsável. O problema é que, por vezes, podem causar um estrago grande e difícil de reverter”, afirma Lino Vili Moura Ribeiro, 42, médico psiquiatra. 

 

Nesse sentido, ele explica que o consumo em excesso vem preocupando especialistas da área e que a dependência é um dos principais efeitos colaterais. “É como se o corpo não conseguisse funcionar sem aquilo, associado à ansiedade diante da simples ideia de não contar com a medicação. Outro grande impacto observado é em relação à memória, à inteligência e à velocidade de raciocínio. Hoje, sabemos que o uso prolongado do zolpidem também pode evoluir para esses quadros”, indica.  

 

 

Como o medicamento age? 

O zolpidem atua em um receptor dos neurônios e mexe com um químico cerebral chamado ácido gama-aminobutírico. Estudos afirmam que quando dormimos naturalmente, o processo de indução ao sono acontece devagar. Aos poucos, o cérebro vai relaxando e se desconectando da realidade, até entrar no estado de sono. 

 

Mas, com o zolpidem, o processo acontece de forma abrupta. Alguns especialistas comparam a um interruptor desligado: é como se alguém apertasse o “off” para desligar o cérebro. Com esse efeito – e um celular em mãos –, as pessoas começam a alucinar. São diversos os relatos de passagens aéreas compradas na internet, surtos para cortar o cabelo durante a madrugada, vídeos gravados e mensagens enviadas em completo estado de delírio. 

 

 

Imediatismo  

Segundo o psiquiatra, a pandemia pode ter deixado uma “herança” negativa nas pessoas no que diz respeito à ansiedade. Mas ele destaca, ainda, a influência de fatores culturais, como o imediatismo. “Dormir requer preparação e tempo, mas muitas pessoas exigem ‘cair na cama e dormir’. Por isso, é fundamental entender a insônia como um sinal de alerta, não como um problema em si. Em casos mais resistentes, a psicoterapia cognitivo-comportamental pode ajudar”, esclarece.  






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