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Reportagens Edição 127 - agosto de 2018

Não é amor, é cilada!


Psicóloga esclarece o que é e como se proteger de um relacionamento abusivo

 

“Só não meto a mão na sua cara porque vou preso”. “Você não vai sair com essa roupa não”. “Batom vermelho não é para mulher direita”. “Você está muito gorda, deveria emagrecer antes que eu te troque”. Você, mulher, já deve ter ouvido pelo menos uma das frases citadas anteriormente, as quais caracterizam uma conduta abusiva. Muitas vezes esse comportamento tóxico está presente na vida a dois e representa diversas situações de ameaça às vítimas, afetando a qualidade de vida dessas mulheres e de todos ao seu redor.

 

 

“Relações que apresentam muitas brigas têm potencial para se tornarem abusivas. Ciúmes excessivo não é prova de amor, quem ama confia. Dominação não é proteção, gritos não são carinho. Não romantize uma relação abusiva”, frisa a psicóloga Angela Oliveira

 

 

COMO COMEÇA

As relações abusivas geralmente começam de forma sutil, com brigas por ciúmes e o sentimento de posse. É o que alerta a psicóloga ANGELA OLIVEIRA, 25, especialista em terapia cognitivo-comportamental e especializanda em sexualidade humana, com dois anos de atuação no Centro Clínico do HCB. O temperamento possessivo, segundo a profissional, é um sinal de que com o tempo as cobranças irão aumentar e, com isso, gerar o desgaste emocional. 
“O abuso na relação inicia quando um se sente no direito de manipular e possuir o outro, controlar suas vontades e deixar de respeitar suas relações com amigos, colegas e familiares. O pensamento de que é ‘dono’ da outra pessoa, junto com a habilidade de manipular, faz com que o agressor convença o outro de que está certo e que faz isso por amor”, explica.




CIÚMES DOENTIO
Os comportamentos abusivos costumam ser explicados pelo agressor para a vítima como se fossem comportamentos de “proteção e cuidado”, como identifica a psicóloga. “O ciúmes muitas vezes é visto como prova de amor, o controle e a dominação podem ser interpretados como proteção. Além de que, há momentos em que o parceiro se mostra realmente cuidadoso e apaixonado, faz mimos e declarações, o que faz com que se mantenha o ciclo de dependência emocional, porém, logo voltam os abusos e as brigas”, destaca. 
“Na medida em que o agressor tenta dominar a relação, o tempo, as amizades e as atividades e a vítima vai dando a ele esse espaço, abrindo mão de suas opiniões, esse padrão dominador/submissa vai se perpetuando e levando assim a uma relação que traz prejuízos emocionais e sofrimento”, enfatiza. 
Para uma relação saudável, a psicóloga recomenda que ambos devam ceder às vontades um do outro, mas sempre com respeito e cuidado, “na medida em que também vão tendo suas opiniões respeitadas e assim tendo um equilíbrio onde decidem juntos e conversem sobre seus anseios e preferências sem que haja uma dominação apenas de uma parte”, aconselha.


EMPODERAMENTO FEMININO
O compartilhamento de materiais informativos, a atenção dada pela mídia a esse assunto e a criação de leis sobre os diversos tipos de violência de gênero têm contribuído para que ocorra o empoderamento feminino e as denúncias de relacionamentos abusivos sejam feitas. Contudo, Angela salienta: “Temos que lembrar que não resolve apenas estimular que as denúncias ocorram, o mais importante é ajudar essas pessoas depois que isso acontece”.


ATENÇÃO

O abuso emocional pode ser seguido por violência física e até mesmo sexual e em casos mais graves pode acarretar até em morte, conforme alerta a psicóloga. A pessoa que vive em um relacionamento abusivo pode apresentar, entre outros sintomas, depressão e transtornos de ansiedade, como pânico e ansiedade generalizada. O silêncio e o afastamento de amigos ou parentes próximos, por sua vez, contribuem para a continuação dos abusos.


HOMENS TAMBÉM SÃO VÍTIMAS

Sim, homens também são vítimas de relacionamentos abusivos. Segundo Angela, esse assunto também inclui relações com outras configurações que não apenas de homem e mulher. “Vemos menos casos de homens que sofrem com isso pelo fato de que para eles pode ser mais fácil terminar essas relações. Mas é importante considerarmos que eles podem sofrer tanto quanto as mulheres, e que realmente precisam dessa ajuda”, reconhece a psicóloga, destacando que o apoio e a compreensão ofertados ao homem são maiores quando comparados às mulheres em razão da cultura machista em que vivemos.
“Considera-se relacionamento abusivo aquele que causa sofrimento, que machuca, que gera ansiedade e tristeza em vez de trazer satisfação, prazer e cumplicidade. Independentemente do gênero que estamos falando, se existe dependência e desgaste emocional se configura uma relação abusiva”. ANGELA OLIVEIRA, psicóloga


PALAVRA DE PROFISSIONAL

Como sair de um relacionamento abusivo?


“O primeiro passo sempre vai ser reconhecer que o abuso está ocorrendo, depois procurar pessoas que possam escutar e dar o apoio necessário no caso de separação. Porém, como uma das consequências desse tipo de relação é o isolamento social, nem sempre as outras pessoas percebem que isso vem acontecendo, então cabe à própria vítima refletir sobre seus sentimentos e procurar alguém para conversar, como um profissional de saúde mental. Ficar atento a pessoas que apresentam essas emoções e se aproximar para oferecer ajuda também é importante, pois nem sempre a vítima vai se sentir segura e ter a iniciativa”.






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