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Reportagens Edição 126 - julho de 2018

Um novo olhar sobre a IRLEN


Distorção na percepção visual atinge até 14% da população mundial, aponta pedagoga. Em Cachoeira, há três profissionais aptos para a detecção da síndrome

 

Lacrimejamento, ardência e cansaço nos olhos são sintomas comuns e podem estar relacionados à síndrome de Irlen, transtorno visual relacionado com alterações na percepção luminosa pelo cérebro. Pouco conhecida no Brasil e com alta prevalência, estima-se que a Irlen atinja de 12% a 14% da população em geral, estando presente em pessoas de todas as idades, com inteligência normal ou superior à média – incluindo bons leitores e universitários. A incidência é maior no sexo masculino e torna-se proporcionalmente mais frequente quando há concomitância com déficits de atenção e dislexia (33% a 46% dos casos). Quem faz o alerta é a pedagoga FERNANDA DA SILVA ROSA, 33, screener (profissional habilitado) em Irlen e mestre em educação com especialização em psicopedagogia e orientação educacional, sendo 14 anos de atuação na área.

 

 

 

Fique atento: “Sempre que a família suspeitar através dos sintomas deve procurar um profissional que possa auxiliar”, diz a pedagoga e screener em síndrome de Irlen Fernanda Rosa

 

 

 

SINTOMAS
Os sintomas da síndrome de Irlen consistem em fotofobia severa (sensibilidade à luz), dificuldade no processo de aquisição de leitura e escrita em função dos problemas de discriminação visual, distorções, manutenção do foco, estresse visual, alteração na percepção de profundidade e cefaleias.
A síndrome, segundo Fernanda, pode coexistir com outros problemas como dislexia, déficit de atenção e dispraxia (disfunção motora neurológica). Pessoas sem diagnóstico e tratamento adequado enfrentam atrasos escolares – sendo muitas vezes analfabetas – e correm maior risco de causar e de se envolver em acidentes de trânsito, incluindo menor participação social.

SEM CURA
De acordo com a pedagoga, não existe cura ou tratamento padrão para a Irlen e o diagnóstico é feito através de triagem com profissional habilitado no Hospital de Olhos de Minas Gerais. “Após a triagem, o paciente pode ser atendido por um psicopedagogo ou profissional na sala de recursos que possa acompanhar seu processo de alfabetização e o uso da lâmina (overlay) de forma adequada”, esclarece.

PÓS-DIAGNÓSTICO

Após o diagnóstico da Irlen, Fernanda destaca que os pais e a escola devem manter-se atentos ao processo de alfabetização para que este continue ocorrendo. “O uso da overlay não faz o estudante começar a ler de uma hora para outra, este é sim um recurso pedagógico que irá diminuir sintomas e distorções ocorridas pelas síndrome. Existem estratégias pedagógicas que podem ser utilizadas para auxiliar este processo”, enfatiza.



 

Cachoeira do Sul conta com três profissionais aptos para realizar a triagem da síndrome de Irlen. Todos os screeners habilitados estão devidamente cadastrados no site da Fundação H’Olhos.

 





OS ÓCULOS

As lentes específicas para a síndrome de Irlen são indicadas para casos do tipo severo, e esses pacientes devem procurar o Hospital de Olhos em Minas Gerais. “Até o momento, somente lá que são realizados os diagnósticos para uso dos filtros de bloqueio espectral (podem ser em óculos ou lentes de contato)”, destaca. 
“Esses filtros são prescritos por oftalmologistas com triagem específica e auxiliam nos aspectos relacionados a leitura, cópias e percepção de profundidade. Em outros casos é sugerido o uso de lâminas overlay para minimizar as dificuldades. Essas lâminas podem ser usadas sobre o material de leitura ou na tela do computador”, completa.
Segundo a profissional, em casos de Irlen leve e moderada, o uso da overlay é o recurso mais comum por neutralizar o contraste luminoso, proporcionar conforto e nitidez, mas para cada caso é recomendada uma cor específica, tendo em vista que “a síndrome não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas”.


Antes e após o tratamento com inserção de óculos corretivos

REPRODUÇÃO/INTERNET



IRLEN EM DEBATE
. A caracterização da síndrome de Irlen foi feita pela psicóloga norte-americana Helen Irlen e apresentada à Associação Americana de Psicologia em agosto de 1983. O estudo envolveu centenas de adultos considerados analfabetos funcionais e com baixa escolarização.
. Apesar disso, a pedagoga Fernanda Rosa observa que a síndrome de Irlen enfrenta resistência por parte de neuropediatras e oftalmologistas. A existência da síndrome é contestada no meio científico.
. Em junho do ano passado, uma petição pública organizada por pessoas com síndrome de Irlen e familiares foi apresentada às comissões de seguridade social e de educação da Câmara dos Deputados, em Brasília, pedindo o debate do assunto e avanços no tratamento.
. Em audiência conjunta, o Ministério da Saúde prometeu estudar a incorporação de metodologias que corrijam a síndrome de Irlen no Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento consistiria no uso de uma folha colorida de acetato – chamada overlay (em torno de R$ 70,00 mais o frete) – que funciona como um filtro e o paciente lê normalmente. Uma solução mais prática seria a incorporação desses filtros em óculos – o custo de uma lente gira em torno de R$ 500,00. Desde que haja evidência científica, o Ministério da Saúde poderá adotar o tratamento.
. Desenvolvidos pelo Instituto Irlen, da Califórnia (EUA), óculos importados custam cerca de R$ 2 mil.
. O Conselho Federal de Medicina (CFM) também ficou de examinar o assunto, como órgão que referenda procedimentos médicos. Em 2014, o conselho já havia emitido um parecer contrário às lentes por não haver aprovação científica para elas.
FONTES: Fernanda Rosa, Débora Rossini, PEBMED, Agência Câmara Notícias


Imagens captadas por ressonância magnética de um paciente com Irlen mostram as áreas ativadas durante a leitura


STEVE STANLEY, AUSTRÁLIA
 






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