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Reportagens Edição 125 - junho de 2018

Na luta pelos ANIMAIS


Conheça mulheres cachoeirenses que têm papel fundamental na proteção dos bichos

Ao longo dos anos, muitos movimentos pelos direitos têm se levantado, sobretudo, um dos que têm crescido cada vez mais é a luta pelo bem-estar dos animais. Acredita-se que no mundo, a cada ano, 7,6 milhões de animais de estimação terminam em abrigos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que, só no Brasil, existem mais de 30 milhões de animais abandonados, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Para tanto, milhares de pessoas têm se engajado em obter avanços a favor dos pets.


“Quero uma vida nova e estou resgatando a mulher que a protetora de animais matou por exigência da causa”, fala Lúcia Severo


LÚCIA SEVERO: REFERÊNCIA

Quem acompanhou o noticiário nos últimos anos e viu de perto o drama dos animais vítimas de abandono e maus-tratos na cidade deve ter ouvido o nome de Lúcia Severo. Símbolo da causa animal, Lúcia, hoje com 54 anos de idade, dedicou seis deles integralmente à proteção, resgate, tratamento, reabilitação e encaminhamento de centenas de cães e gatos que já passaram por suas mãos e de voluntários na extinta sede da Associação Cachoeirense de Proteção Animal (Acapa), em sua antiga moradia alugada no Bairro Tibiriçá. Lá, chegou a ter quase 900 cães e gatos, a maioria abandonada por pessoas da cidade e do interior.
O trabalho voluntário de Lúcia voltado para animais teve início no começo dos anos 2000, quando encontrou um cachorro com sarna abandonado na rua. Batizado de Maquito, o vira-lata recebeu tratamento e foi doado posteriormente. A partir daí Lúcia passou a recolher todos os animais acometidos com sarna e cinomose e atropelados na cidade. Assim, abandonou sua vida profissional e social para se dedicar aos cães e gatos que precisavam de auxílio, encaminhando muitos deles para doação, já com todos os cuidados prévios.


HISTÓRIA DE LUTA

Lúcia assumiu a presidência da Acapa em 2010, tendo a sua vida completamente transformada durante este período, abdicando de si própria para “arregaçar as mangas” a serviço dos animais. Nesta época ela chegou a abrir um pet shop que ganhou o nome de Fred, inspirado em um cachorro deficiente socorrido de maus-tratos.
Revendo o passado, Lúcia conta que decepções com pessoas e situações levaram-na a encontrar carinho e lealdade nos bichos, mas acabou perdendo o controle da situação. Chegou ao limite do próprio descaso, vestindo roupas maltrapilhas, dormindo em meio aos bichos dentro de casa, senão em um canil ou em um carro velho, e se alimentando de restos de comida doados. Pouco a pouco foi “engolida” pela causa, como descreve, sem esboçar arrependimento, apenas agradecendo a experiência. “Não tenho vergonha da minha história. Reconheço que estava doente, mas agora estou renovada e não quero mais essa vida”, fala.


VIDA NOVA

Para superar o transtorno de acumulação, Lúcia passou por tratamento psicológico, psiquiátrico e neurológico e se firmou em sua fé. De novo endereço e intitulada cargo em comissão (CC) da Prefeitura, ela segue trabalhando com animais, mas no Centro Municipal de Proteção Animal (Cempra), localizado no Patronato Agrícola, em Três Vendas, e com remuneração. Hoje tem apenas 12 cães, número dentro do limite de 15 permitido a ela no acordo feito com a Promotoria de Justiça, e não pensa mais em exercer voluntariado.
“A Acapa foi um grande peso que carreguei sozinha, arrastei uma cruz. Apesar da péssima estrutura, todos os animais foram bem atendidos, recebendo melhor alimentação, atendimento veterinário e cuidados. Não preciso de uma entidade para continuar ajudando, envolve muitos gastos”, ressalta ela, destacando o apoio recebido de veterinários, voluntários, instituições, empresários e das promotoras de Justiça Débora Becker e Giani Saad.
Mãe de Bianca Sartorio, 23, bacharel em educação física, e viúva há cerca de dois anos, Lúcia está retomando também a sua vida amorosa – reencontrou um namorado da juventude após quase três décadas, o aposentado Valter Fogliarini, residente em Dona Francisca. “Voltei a ter vontade de viver e até me sinto rejuvenescida. Estou feliz com esta nova mulher que me tornei”, conta com brilho nos olhos e sorriso estampado no rosto.



Lúcia Severo em 2016. Apesar de ter enfrentado problemas emocionais na presidência da Acapa, diz ter aprendido muito sobre humildade, amor e perseverança


SAIBA MAIS


A Acapa prestou serviço voluntário aos animais durante 16 anos ininterruptos, tendo início sob a direção de Majara Florence no ano de 2000 (à época, sem sede fixa) e término em 2016, conforme determinação do Ministério Público, devido à situação irregular encontrada. O termo de ajuste de conduta (TAC) firmado em outubro daquele ano previu a transferência dos animais alojados na Acapa para o Cempra. Hoje o espaço abriga cerca de 240 bichos distribuídos em 93 baias, sob constante expansão. A Acapa foi também presidida por Arabela Barros (2004), Lísia Trommer (2008) e Waldívia Toledo (2009).


 

 

 

 

 

 

WALDÍVIA TOLEDO: GRATIDÃO

Sabe aquelas pessoas solidárias e gratas à vida que dividem o que têm com quem mais precisa? Essa é a ativista Waldívia Toledo, 62, professora de inglês aposentada, diretora da ONG SOS Animais e integrante da equipe diretiva da ONG Matilha. Waldívia iniciou suas atividades voluntárias junto à Acapa em 2006, à época sob a presidência da aposentada Arabela Barros, 79, – sua grande inspiração –, quando dava início à aposentadoria e à segunda graduação. “Assumi a Acapa e larguei o Direito, não consegui conciliar, dei um tempo e não voltei”, conta ela, que chegou a dividir-se entre as duas ONGs durante dois anos.  
O que a motivou abraçar a causa animal foi o amor pelos bichos e a realização de um sonho pessoal: mandar a filha para estudar no exterior – Maria Eduarda Michelin, 25, é graduada em linguística e mestranda em política linguística e internacional na Alemanha, país europeu onde vive há seis anos. É mãe também de Fernanda, 18, estudante, e viúva há dois anos.



Apoiadora da causa animal há uma década, Waldívia Toledo enfrenta dificuldade para manter sozinha a ONG SOS Animais, mas segue firme: “Eles precisam de mim”



SOS ANIMAIS


Atuando com recursos próprios, Waldívia é proprietária de um sítio no Bairro Santa Helena, onde está localizada a sede da SOS Animais. O espaço abriga somente cães, em torno de 100 (sob lotação máxima), e emprega dois funcionários fixos e um voluntário para auxiliar na manutenção. Em seu endereço particular no centro da cidade cuida de quatro cachorros. Também realiza atendimentos, custeia tratamentos e cirurgias e presta socorro a animais vítimas de abandono, maus-tratos e atropelamentos. “Com esses custos poderia visitar mais vezes a minha filha, mas vale a pena”, reconhece.
Por trás das dezenas de casos que se repetem diariamente e dos inúmeros pedidos de socorro através de ligações e de recados via redes sociais, Waldívia diz já ter pensando em desistir da causa, mas persiste: “É um trabalho desgastante, envolve tempo, disponibilidade e dinheiro. Já saí da cama no inverno de madrugada para resgatar animais em áreas de difícil acesso. A maioria das pessoas acredita que está fazendo bem aos animais pedindo para que eu os salve ao invés de ajudar com as próprias mãos. Já me desiludi muito. Cheguei a oferecer o sítio (sede da SOS) sem nenhum custo para a ONG Matilha. Estão despejando animais em cima de mim”, desabafa. Conforme Waldívia, em alguns casos não é mais possível localizar estes animais, pois já não se encontram no mesmo local de quando foi feito o último contato.
De acordo com ela, ativistas de ONGs e grupos de proteção animal chegaram a criar um grupo no aplicativo WhatsApp visando impulsionar o trabalho na cidade, mas esse não obteve êxito. Contudo, vibra com a conquista do atual cargo de Lúcia Severo, sua amiga: “Ela coloca a mão na massa para tratar os animais como ninguém”. E utiliza uma frase da escritora Ana Stoppa para descrever o seu trabalho: “Fazer o bem faz bem, independentemente do reconhecimento. A solidariedade não comporta vaidades pessoais”.


SERVIÇO

. Doações de ração, mantimentos, camas e panos (travesseiros, almofadas, etc.) e interessados em serviço voluntário, podem contatar WALDÍVIA TOLEDO pelos fones 99659 7913 ou 3724-1231.

OUTRAS ATIVISTAS
. Isabel Dias, Lenise Alves, Isabel Cristina Gasparin e Nize Santos.
Nomes de protetoras de animais citados por Lúcia Severo e Waldívia Toledo em entrevista.



 

 

 

 

Confira na próxima edição da LINDA a segunda parte da reportagem com outras protetoras de animais de destaque.
 






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