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Reportagens Edição 104 - julho de 2016

Carne? Tô fora!


Em terra de churrasco, tem gente que come espetinho de legumes


Já dizia o cantor e compositor gaúcho Teixeirinha: “O assador grita de lá ‘Chega pra cá, olha, o churrasco vai pra mesa’. E o gaúcho vai puxando a prateada”. Todos sabem que a culinária do Rio Grande do Sul tem como tradição o churrasco, mas você sabia que há quem a carne não faça falta e até conteste o seu consumo? São os vegetarianos e veganos. Engana-se quem pensa que abstrair-se deste alimento é fácil, porém, são muitos os motivos e benefícios que cercam esse estilo de vida.

A nutricionista Jociele Domingues da Silva, 26, especialista em nutrição clínica, tendo quatro anos de atuação, afirma que os vegetarianos podem ser mais magros e saudáveis, mas quem segue essa dieta precisa de apoio nutricional para adequar a alimentação visando o consumo de todos os nutrientes necessários à nossa saúde. Segundo a nutricionista, um dos motivos da popularidade das dietas vegetarianas são os recentes estudos que mostram a menor taxa de morbidade e mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis quando comparada à dos carnívoros.


“Qualquer dieta mal planejada, seja vegetariana ou não, pode trazer prejuízos à saúde”, reforça a nutricionista

 





AMOR E RESPEITO AOS ANIMAIS


A acadêmica de Direito Michelle Dutra, 19, aboliu a carne vermelha e a carne branca do prato por amor e respeito aos animais após ter estudado e se aprofundado mais sobre o assunto, há dois anos. “Percebi que além de estar fazendo bem aos animais, estava fazendo bem a mim e ao planeta, pois há diversas relações entre a pecuária e os impactos ambientais”, explica. Para a estudante, matar animais para consumo humano serve apenas para satisfazer nossos desejos e prazeres. “Os animais são seres sencientes (possuem capacidade de sofrer ou sentir) que, sem terem feito nada, vivem uma vida de escravidão e no final desta são mortos cruelmente”, salienta.

“Não precisamos de carne para viver”, afirma Michelle



DIREITOS DOS ANIMAIS

Vegetariana há um ano e três meses, Júlia Effell, 17, estudante do terceiro ano da Escola Estadual Borges de Medeiros, diz que adorava sentir o sabor da carne, mas admite: “Sentia-me hipócrita por defender os direitos dos animais e contribuir para a carnificina dos mesmos”. Júlia não faz acompanhamento com nutricionista, mas, segundo ela, por enquanto, isso tem sido um erro. “Nos primeiros meses perdi 10 quilos repentinamente, tive desmaios e queda capilar”, recorda a garota, que também evita comer gelatina e outros alimentos com corantes artificiais.

“Os animais são iguais, não há distinção entre uma galinha e um cachorro. As pessoas parecem amar apenas animais domésticos”, diz Júlia



DICAS DE ALIMENTAÇÃO


Jociele diz que os cereais integrais, incluindo grãos produzidos com o mínimo de processamento, são recomendados mundialmente para vegetarianos e veganos. “As melhores escolhas de alimentos integrais são pães, cereais, arroz e tubérculos como as batatas, inhame e mandioca”, sugere. A nutricionista também recomenda o consumo de leguminosas, incluindo todos os tipos de feijões, lentilha, ervilha, grão-de-bico e produtos derivados de soja, hortaliças, cogumelos, frutas, oleaginosas (nozes, castanhas, sementes de girassol e abóbora) e gorduras vegetais. “Alguns vegetarianos consomem cereais na forma de análogos da carne, como o glúten, que constitui uma parte do trigo rica em proteína”, conta.


VEGETARIANO X VEGANO

Jociele explica que a diferença entre o vegetariano e o vegano vai além da alimentação. Segundo a nutricionista, os vegetarianos não consomem carnes, laticínios e/ou ovos. Já os veganos, além de não consumirem esses alimentos, excluem produtos testados em animais e que possuam ingredientes ou insumos de origem animal, como no vestuário o couro e a lã, pois são contra qualquer tipo de exploração. “Seria um estilo de vida diferente”, resume. No entanto, a profissional salienta que existem grupos diferentes de vegetarianos. Os ovolactovegetarianos não consomem nenhum tipo de carne, mas comem laticínios e ovos, os lactovegetarianos não consomem carnes e ovos, mas ingerem laticínios, e os ovovegetarianos não consomem nada de carnes e leite, mas comem ovos.




3 PERGUNTAS PARA JOCIELE

ABOLIR A CARNE DO CARDÁPIO MELHORA OU PIORA A SAÚDE?


“De acordo com a American Dietetic Association (ADA), a dieta vegetariana é definida como aquela que não inclui carne, peixes e frutos do mar e a posição dessa instituição é a de que as dietas vegetarianas apropriadamente planejadas são saudáveis e adequadas em termos nutricionais, trazendo benefícios para a prevenção e para o tratamento de doenças crônicas. Os vegetarianos apresentam menos probabilidade de desenvolver diabetes, colesterol, problemas cardíacos e câncer”.

TODO VEGETARIANO PRECISA TOMAR SUPLEMENTOS ALIMENTARES?

“Mito. As vitaminas e minerais essenciais são encontradas em todos os alimentos que o vegetariano costuma consumir. Somente em casos individuais um determinado tipo de vitamina ou mineral necessita ser suplementado. O que é mais comum ocorrer em vegetarianos é a deficiência de vitamina B12 por não ingerirem alimentos como leite e derivados, deficiência essa que não ocorre em lactovegetarianos. No entanto, se a dieta for adequada não é preciso suplementação, por isso a importância de um acompanhamento com nutricionista”.

É VERDADE QUE O BRÓCOLIS TEM MAIS PROTEÍNA QUE A CARNE?


Com “100 quilocalorias de brócolis ou 100 quilocalorias de carne consegue-se ingerir quantidades de proteínas aproximadas. Existem evidências científicas indicando que a disponibilidade das proteínas de alimentos vegetais ingeridos ao longo de um dia pode fornecer todos os aminoácidos essenciais caso haja variedade no consumo alimentar”.




QUESTIONAR CONCEITOS


O acadêmico de Direito e rapper Tiago Bittencourt Friedrich, 19, parou de consumir carne vermelha há três anos, quando se deu conta do afeto que sentia pelos cachorros, mas consumia carne de outros animais. No entanto, Tiago não se considera vegetariano ou vegano, pois consome peixes, crustáceos e alguns laticínios raramente. Para ele, nós devemos questionar conceitos e tabus que são repassados por gerações. “Não é porque algo faz parte da cultura que não será errado. Assim, os chineses matam diversos cachorros para comer e acham normal. No Brasil, o mesmo acontece com vacas, bois, galinhas e porcos”, explica.
Quando assistiu ao documentário “Terráqueos”, que mostra a realidade dos abatedouros, da indústria do leite e de todas as consequências geradas aos animais e ao meio ambiente, Tiago prometeu a si mesmo que não comeria mais carne vermelha. “Pesquiso marcas que não testam em animais e que são ecologicamente sustentáveis”, conta.


GABRIEL RODRIGUES

 






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