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Reportagens Edição 102 - maio de 2016

O poder está em nossas mãos!


Enquanto pessoas estão à espera de um rim para sobreviver, muitas famílias não conversam entre si para saber se há ou não o desejo de ser doador de órgãos

Salvar uma vida pode estar muito mais perto da gente do que se possa imaginar. Quem já fez isso sabe o quanto é bom e gratificante a sensação de devolver a esperança e o sorriso para quem já estava, em algumas situações, desenganado. Há inúmeras maneiras de poder fazer isso, e uma delas é ser doador de órgãos. Mas ainda há muito preconceito em torno deste assunto e, talvez, desinformação.

Aos 12 anos de idade, o cachoeirense J.K. foi diagnosticado com insuficiência renal crônica. Foram as dores fortes na região lombar e a pressão alta que o levaram a procurar um médico. Por ser uma situação de alto risco de morte e por não ter ainda o organismo preparado para fazer hemodiálise, J.K. precisou de um transplante de rim urgente e teve a sorte de encontrar na mãe uma doadora compatível (requisito importante para ser realizado o procedimento). No entanto, anos depois, devido a um medicamento que tomou indevidamente, o rim parou de funcionar e há cinco anos ele voltou para a hemodiálise, onde espera por outro transplante.




“Quem deseja ser doador de órgãos deve informar sua família sobre sua opção. Dessa forma, a família poderá tomar a melhor decisão de acordo com a vontade do seu ente querido, superando um momento de dor extrema”, diz André
 


HEMODIÁLISE
A hemodiálise é feita três vezes por semana, durante quatro horas. De acordo com o nefrologista André Aozani Prochnow, 44, sendo 16 anos de profissão, a hemodiálise é uma terapia de substituição da função renal, ou seja, é um tratamento indicado em casos de insuficiência renal avançada, quando os rins já não conseguem mais filtrar o sangue. Nessa situação, uma máquina (rim artificial) faz o papel do órgão doente. “Nos casos mais avançados, quando o tratamento clínico não recuperar a função renal, o transplante será indicado”, explica.


TRANSPLANTE
Quando o transplante é feito possibilita ao paciente a reabilitação a uma vida normal, porém, alerta o nefrologista André, no primeiro ano depois da cirurgia é necessário um cuidado maior, com consultas frequentes e precauções em relação às doenças infectocontagiosas. “Após devem ser mantidos o uso correto dos imunossupressores e acompanhamento médico permanente”, explica o médico, que é também responsável pelo Centro de Nefrologia do Hospital de Caridade e Beneficência (HCB).


A ESPERA POR UM RIM
Por sentir muitas dores de cabeça devido à pressão alta, ter os pés e as pernas inchadas e muito cansaço, a pedagoga J.F.S., 40, procurou um médico e teve o diagnóstico de insuficiência renal. A paciente precisa de um transplante de rim e está na fila de espera desde 2012, já que seus familiares não têm a compatibilidade necessária para a doação do órgão. “Acredito que a lista de espera seja demorada devido à falta de informação dos familiares. Muitos doadores não falam sobre o assunto com a família e quando acontece o óbito a mesma não sabe o que fazer. Também penso que a divulgação sobre doação de órgãos poderia ser melhor explorada”, desabafa a pedagoga. Para ela, o medo de doar também é outro limitador. “Ainda hoje há quem acredite que sendo doador exista um desinteresse em salvar essa vida para favorecer a doação de órgãos”, conta. Mas esta crença não é verdadeira e o nefrologista André esclarece.


FALTA DE CONHECIMENTO INIBE A DOAÇÃO
“A morte encefálica nada mais é do que a morte propriamente dita, ou seja, definitivamente o óbito. O corpo estará apenas sendo mantido artificialmente em aparelhos, em quadro clínico irreversível. O diagnóstico desta situação é bem criterioso e passa por diversas etapas, incluindo testes clínicos realizados por dois médicos e exames complementares para confirmação, sendo inequívoco. A negativa para doação geralmente ocorre devido ao desconhecimento e dúvidas da família em relação a este processo ou porque o paciente não manifestou seu desejo em vida, ou seja, de ser um doador de órgãos. Outras questões particulares e religiosas também interferem na decisão”, diz André.


PREVENÇÃO
Para reduzir o risco de desenvolvermos doença renal ou evitar que a doença se agrave é preciso ter hábitos alimentares saudáveis. Também, segundo o médico, reduzir a ingestão de sal, beber água, controlar o peso, a pressão arterial e o diabetes, não usar medicamentos sem orientação médica e praticar atividade física regularmente.




TRANSPLANTE COM SUCESSO

O estudante João Vitor Goulart da Rosa, 17, passou por um transplante de rim há dois anos e apesar de ter uma vida normal, tem que ir uma vez por mês a Porto Alegre para fazer exames e tem restrições alimentares. Segundo sua mãe, a dona de casa Leidiana, 33, ele sempre foi um menino hiperativo e de uma hora para outra ficou mais quieto, muito tempo deitado, sentia dores nas pernas e vomitava muito. Entre idas e vindas ao hospital e a realização de exames chegou o diagnóstico de insuficiência renal crônica. O estudante fez hemodiálise e depois de três meses na fila de espera, já que o caso era grave e já tinha atingindo os pulmões, conseguiu realizar o transplante.

Leidiana e João Vitor: “Há dois anos meu filho está bem, já recuperou o ano que ficou sem estudar e tem uma vida praticamente normal”, fala a dona de casa





CAPTAÇÃO DE ÓRGÃOS

Segundo dados do Hospital de Caridade e Beneficência (HCB), desde 2002 já foram realizadas 21 captações de órgãos. Os órgãos retirados, de acordo com a enfermeira Vanessa Moura da Silva, 32, sendo sete anos de profissão, são encaminhados para a Central de Transplantes. “A fila de transplantes é classificada de acordo com grupo sanguíneo, peso, idade e altura do doador”, explica. Outro fator levado em consideração é o tempo de espera de cada receptor e se o estado é grave. Cada estado tem sua própria lista de espera. “Os pacientes são cadastrados na Central de Transplantes, onde aguardam em uma fila única”, diz Vanessa.

Vanessa é coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante




ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO
A presença de um psicólogo durante todo tratamento de hemodiálise e espera do transplante é fundamental para o paciente. Segundo a psicóloga que atua no serviço de nefrologia do HCB Camila Ribeiro Santos, 40, sendo sete anos de profissão, é necessário incentivar os pacientes e familiares na busca de estratégias de enfrentamento da situação. “Os pacientes podem desencadear sentimentos de desamparo, impotência, ansiedade  e tristeza”, conta Camila. A psicóloga também auxilia nas entrevistas com os familiares de potenciais doadores esclarecendo o assunto. “Muitas negativas de doação têm relação com a inexistência da qualidade de relação familiar. Vejo famílias que nunca mantiveram um diálogo aberto, que não manifestavam seu desejos, suas vontades, e inclusive familiares que embora morando sob o mesmo teto não se conheciam intimamente para saber das vontades uns dos outros”.



FIQUE DE OLHO

De acordo com o nefrologista André, os sintomas que podem indicar o diagnóstico de insuficiência renal são: edema (inchaço), mal-estar, náuseas, vômitos, fraqueza, anemia, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, redução do volume urinário, cefaleia e outros sintomas neurológicos. Porém, ele deixa um alerta: “Em estágios iniciais as doenças renais normalmente não causam sintomas, são silenciosas e podem não ser percebidas”.
De acordo com André, é importante o diagnóstico precoce em situações de risco tais como a hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, história familiar de doença renal, obesidade, tabagismo e idade acima de 50 anos. “Nestes casos, a doença renal pode ser diagnosticada através da dosagem de creatinina no sangue, da pesquisa de proteína na urina e do exame comum de urina”, esclarece.

 






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