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Reportagens EDIÇÃO 20 - DEZEMBRO 2008

Faça sua história também


Taxistas contam aventuras dignas de roteiros da TV que vivem a bordo de seus táxis

 

No programa dominical da Rede Globo "Faça sua história" o taxista boa praça Osvaldir, interpretado pelo ator Vladimir Brichta, vive verdadeiras aventuras a bordo do seu táxi. Cada passageiro se torna integrante de uma nova situação. Assim como Osvaldir, que taxista ainda não viveu um episódio no mínimo curioso durante sua jornada de trabalho? LINDA percorreu os pontos de táxi de Cachoeira do Sul para conhecer os fatos que marcam a vida deles, que são testemunhas oculares, ouvintes ou confidentes das alegrias e dramas de seus clientes. Pegamos carona nas aventuras desses profissionais para mostrar o quanto pode acontecer dentro de um táxi.


 

 

Levando a morte de carona


Taxista há oito anos no ponto da Praça Honorato de Souza Santos, José Cláudio Lemes Santos, 32, presenciou a morte de um passageiro dentro do seu táxi. "Fui chamado por uma mulher para que junto com ela fosse socorrer seu cunhado que estava tendo uma parada cardíaca. Chegando na casa, colocamos o homem no carro e partimos para o hospital. Como eles já haviam chamado uma ambulância e encontramos ela no meio do trajeto transferimos ele para que pudesse receber atendimento, mas já era tarde. Ele havia morrido dentro do meu carro. No momento, diante do desespero da cunhada e dos familiares que estavam em casa, ninguém falou em morte, mas acompanhei o final da história e descobri que ele faleceu quando estava no táxi. Mesmo não conhecendo ele, fiquei sentido por ver a dor dos familiares".



 

Sigilo é tudo


Ser motorista de táxi exige discrição e sigilo sobre os passageiros transportados. Taxista há seis anos no ponto da Matriz, Odná Madeira, 59 anos, sabe bem dessa regra da profissão. "Estava no ponto quando uma mulher entrou no carro pedindo para levá-la até determinado endereço. Antes de descer ela pediu que em hipótese nenhuma eu poderia falar para alguém que tinha transportado ela. Disse-lhe que tudo bem, afinal, não costumo revelar quem são os passageiros que transporto. Como era de noite, voltei para o ponto e acabei dormindo. Cerca de uma hora depois, o marido dessa mulher entrou no táxi e perguntou se eu tinha transportado alguém com as características que ele me passou. Percebi na hora que se tratava da passageira que havia levado, mas neguei que tivesse sequer visto ela. Ele fez eu rodar por várias ruas, passando inclusive por onde eu havia deixado ela. Como não encontrou a esposa pediu que eu o levasse de volta para casa. Acredito que ele nunca soube da verdade".



 

46 anos de profissão e muitas histórias


Para um dos taxistas com mais tempo de profissão em Cachoeira do Sul, Vilmar José da Silveira, o Marzinho, 70 anos, histórias é o que não faltam. De ouvinte de problemas a apaziguador de brigas, ele conta que as surpresas lhe fazem admirar a profissão. "Quando percebo que a corrida vai virar encrenca procuro nem fazer, mas às vezes acabo caindo. Não faz muito tempo, um homem com um bebê no colo pediu que eu o levasse até um determinado local. Chegando em frente a uma casa ele pediu que ficássemos esperando. Percebi que estava nervoso, mas não quis perguntar o motivo. Passados uns 30 minutos uma mulher saiu na rua e ele pegou uma faca que estava escondida, colocou o bebê no banco traseiro e foi descer do carro. Quando vi que ele poderia tentar agredir a mulher, comecei a conversar e pedir para que se acalmasse. Por fim, ele conversou com ela, que depois descobri que era sua esposa, e eles acabaram pedindo que os levasse de volta para casa", conta com a sensação de missão cumprida.


"Outra vez uma passageira pediu para levá-la até a Ponte do Fandango. Quando chegamos lá, ela desceu e vi que queria se atirar no Rio Jacuí. Desci rápido do carro e tentei conversar para que ela desistisse da idéia. Como começou a passar muitos carros, fiquei com medo que se matasse e pudessem achar que eu estava ligado à morte. Voltei na mesma hora e avisei a polícia. Eles foram até lá e a mulher ainda estava na dúvida se iria ou não se atirar Acredito que com a minha atitude tenha evitado uma tragédia", lembra. 


 


Passageiros 171


Evitar calotes na profissão de taxista é praticamente impossível. Por não conhecer os clientes e só cobrar o valor ao fim da corrida, muitos ficam no prejuízo com passageiros que simplesmente não pagam pelo serviço. "Estava no ponto quando dois meninos e duas meninas solicitaram uma corrida até o Jockey Club. Quando parei no local, eles simplesmente abriram as portas e saíram correndo. Até tentei localizá-los, mas acabei perdendo eles na escuridão. Outra história de calote que marcou minha carreira também aconteceu com jovens. Dois rapazes pediram para irem até a casa noturna. Chegando lá disse que me deviam R$ 12,00. Um deles perguntou se eu tinha troco para R$ 50,00, respondi que sim, então ele pediu que eu entregasse o dinheiro primeiro. Não aceitei e ele ficou insistindo. Percebi que a hora que desse o troco eles não iriam entregar os R$ 50,00. Acabei indo embora, afinal melhor ficar sem o pagamento da corrida do que perder meu dinheiro também", conta o taxista do ponto da Praça Honorato Adalberto Streb, 48 anos

 


Mãos ao alto


Difícil encontrar um taxista que não tenha vivido ou que não conheça alguma história de assalto durante uma corrida. Expostos a todos os tipos de passageiros, esses profissionais muitas vezes arriscam a vida ao levar desconhecidos, especialmente durante a noite. Há cerca de dois anos o dia do taxista da Praça Honorato Santos Elemar Severo, 70, não teve um final feliz. "Um rapaz foi até o ponto e pediu que eu o levasse até Paraíso do Sul. Desconfiei e até perguntei se ele tinha dinheiro para pagar a corrida, ele contou uma longa história, que era filho de agricultores e que estava indo para ajudar na colheita. Acreditei e parti, quando já estava na cidade ele colocou uma faca no meu peito e acabou roubando parte do meu dinheiro e ainda ameaçou de me matar se denunciasse para a polícia. Procurei ajuda para tirar o carro que havia batido em galhos no momento do assalto e a família que me socorreu incentivou que eu chamasse a polícia. No fim das contas toda a comunidade se movimentou para procurar o assaltante. Horas depois encontramos ele em um bar, mas parte do meu dinheiro ele já havia gastado. O susto foi grande, mas graças a ajuda de alguns moradores tudo acabou bem".




 

 

De acordo com o responsável pelo departamento de Trânsito, Vistoria e Sinalização da Secretaria Municipal de Interior e Transportes, Clécio Dunke, Cachoeira do Sul possuí na zona urbana 86 táxis em atividade distribuídos em 18 pontos.







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