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Reportagens EDIÇÃO 09 - JANEIRO 2008

Elas assumiram a direção


Mulheres ganham espaço também no trânsito. Além das que dirigem seus carros, há aquelas que transportam passageiros e até cargas

 

Há poucos anos, em táxis, caminhões e ônibus a direção sempre pertenceu aos homens. Poucas mulheres se arriscavam a guiar até mesmo os carros da família. Hoje, esse cenário que começou a ser dominado timidamente pelo público feminino já está tomado delas, que além servir de motoristas para os familiares, muitas vezes fazem da direção a sua profissão. De acordo com dados do Centro de Formação de Condutores (CFC) Guidare, em 2005, 116 mulheres fizeram sua habilitação para carro ou moto em Cachoeira do Sul. Já de janeiro a dezembro de 2007 esse número subiu para 268, um aumento de 131% em relação a 2005. A comprovação se vê nas ruas da cidade, onde cada vez menos se vê elas no banco do carona e cada vez mais atrás do volante.


Elusa: realizada com a profissão de motorista, ela nem pensa em fazer outra coisa


De acordo com o diretor de ensino do CFC Guidare, Celso Carpes, essa troca de lugares aconteceu de forma rápida e começou somente nos últimos 10 anos. “Em 1997, quando a empresa foi fundada, o número de mulheres que tiravam sua habilitação era insignificante se fosse feito um comparativo com os homens”, revela. Apesar de não possuir dados exatos, o diretor afirma que em 1997 o número de habilitadas ao ano não chegava a 50, ou seja, menos de 1/5 das que saíram com a carteira da mão em 2007.
A mudança repentina de lugar dentro do veículo trouxe para as mulheres motoristas um problema: o preconceito masculino. “Só podia ser mulher” ou “mulher no volante, perigo constante” são frases muito pronunciadas ao verem que o condutor do veículo que cometeu uma barbeiragem é mulher. Apesar de já terem garantido seu espaço na sociedade, nas ruas elas ainda são perseguidas pela fama de más motoristas. Mas esse antigo mito é cada vez mais injusto, já que elas mostram que estão tão acostumadas com essas máquinas como com as de lavar, com os computadores ou telefones.
Há três anos, Elusa Alves Domingues, 34, fez do gosto de dirigir a sua profissão. Taxista, ela diz que às vezes ainda se depara com discriminações no trânsito por ser mulher, mas garante que esse preconceito vem diminuindo. “Entrei numa profissão tipicamente masculina, tanto que dos 23 motoristas que trabalham na Praça de Táxi José Bonifácio eu sou a única mulher, então sabia que iria enfrentar alguns olhares estranhos”, observa. Habilidosa, ela mostra que domina melhor a direção do que muitos homens. "Todos os passageiros que entram no carro pela primeira vez ficam com um ar surpreso por eu ser mulher. Há curiosidade de saber o porquê de eu estar ali e não fazendo outra coisa", conta. Antes de ser taxista, Elusa vendia carros. Hoje ela garante que se sente realizada na profissão que escolheu, tanto que tem lista de clientes e já comprou junto com o marido o seu segundo táxi.
Seguindo os passos de Elusa, estão muitas outras mulheres que precisam trabalhar para ajudar na renda familiar e acabam abrindo portas na profissão de motorista, seja de táxi, transporte escolar, ônibus e caminhões. Há 10 anos Lúcia Costa da Rosa, 37, passa pelo menos cinco horas por dia atrás do volante levando e buscando crianças e jovens em um dos veículos da empresa de transporte escolar que comanda ao lado do seu marido. Dividindo-se entre a profissão de motorista e orientadora escolar, ela garante que se sente realizada e que o trânsito não lhe causa estresse. “É claro que às vezes acontecem situações irritantes, mas nada que me tire do sério. Em geral, o preconceito vem diminuindo. Hoje, muita gente prefere contratar mulheres para transportar seus filhos, pois acreditam ser mais calmas para dirigir que os homens, comenta”.


 

Lúcia: preconceito existe, mas mulheres dão a volta por cima mostrando calma e habilidade para dirigir


 

Números

Habilitações tiradas em Cachoeira do Sul nas categorias A (somente moto), B (somente carro) ou AB (carro e moto)

Ano                   Homens                 Mulheres
2005                362 (75,74%)        116 (24,26%)
2006                377 (66,82%)        186 (33,18%)
2007*               437 (61,98%)        268 (38,02%)

*Dados referentes ao período de janeiro ao início de dezembro deste ano.
Fonte: CFC Guidare

 

Boas motoristas, sim


Seguradoras garantem isso com desconto de até 30% no seguro dos veículos de mulheres


Se ainda tem gente que acredita que mulher não deveria dirigir carros, e muito menos fazer disso uma profissão, não imagina que esse mito de que ser mulher é sinônimo de ser má motorista não chega às seguradoras de automóveis. De acordo com o corretor de seguros Luiz Carlos Arbelo Filho, por serem consideradas mais cautelosas na hora de dirigir, elas podem pagar um pouco menos no valor total do seguro. “Apesar de também causarem acidentes de trânsito, são as colisões envolvendo homens que terminam com mais freqüência em perda total do veículo. Elas se envolvem em colisões com menor custo de reparo porque costumam dirigir em baixa velocidade e não se arriscam”, observa.
O desconto varia de 10% a 30% em relação ao valor cobrado se o motorista for homem. “As seguradoras levam em consideração a idade, estado civil e se possui filhos. Mulher casada e com filhos menores de 18 anos são as que levam mais vantagens, já que a direção responsável fica evidente e o cuidado de não se expor a riscos é dobrado”, explica Arbelo. Além de dirigir com mais zelo, as mulheres constumam beber menos, o que contribui muito para a redução das estatísticas de acidentes envolvendo elas. Outro fator que garante o desconto para elas é que as mulheres também são mais atentas a qualquer ruído estranho e costumam andar em dia com a manutenção do carro.


 

Apesar de estar presente no trânsito como profissionais, o público feminino ainda segue representando a minoria de quem tira habilitação nas categorias C e D (caminhões, ônibus e transporte escolar). Já para a categoria E (carretas) não consta nos registros dos últimos três anos nenhuma mulher que tenha feita essa habilitação.


 

Carteira na mão aos 57 anos


Vera dá exemplo de que aprender a dirigir não é só para os jovens


Aprender a dirigir não é somente coisa para os jovens que completam 18 anos e correm para fazer sua carteira nacional de habilitação (CNH). Mulheres que na adolescência tinham vontade de tirar a licença mas eram reprimidas pelo preconceito ou pelo mito que só era necessário o homem saber guiar, vão a luta pela sua permissão para sair do banco do carona e passar para trás do volante.
A assessora da Igreja Evangélica Martin Lutero é um exemplo disso. Vera Trojahn Kirchhof sempre teve vontade de dirigir, mas o marido era contra. “Ele sempre dizia: para que tu quer aprender, se eu dirijo e posso te levar para onde quiser? Com o tempo fui ficando acomodada e também passei a pensar assim”, conta. Em março do ano passado ela ficou viúva e se viu perdida, já que organiza jantares à noite e muitas vezes não tinha como voltar para casa e nem levar suas funcionárias embora. “Com isso comecei a depender dos filhos, que às vezes tinham que sacrificar a rotina para me atender. Foi aí que decidi que ia aprender a dirigir”, lembra.
Aos 57 anos, ela foi para a sala de aula e depois pela primeira vez na vida começou a enfrentar o trânsito. Vera passou no segundo exame e hoje anda por toda a cidade e já fez até pequenas viagens. “Vejo como perdi tempo e como teria sido mais fácil se tivesse aprendido quando era mais nova. Hoje sou independente, passeio, trabalho, enfim faço tudo o que preciso guiando o meu carro”, orgulha-se.


 

Vera: carteira na mão e independência para ir onde quiser






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